QUAL ALIMENTO QUEREMOS NA MESA?

Por Angela Escosteguy *

O dia mundial da alimentação nos convida a uma reflexão. Dois pontos são básicos: qual o melhor modelo de produção de alimentos e quais alimentos queremos para o futuro. Cada vez mais nos damos conta dos limites físicos do planeta, do crescimento da população, da destruição dos ecossistemas e da diminuição das terras agricultáveis tanto pelo  mau manejo quanto pelo avanço das cidades.

A revolução verde no século passado nos envolveu com sua tecnologia, com a avalanche de insumos químicos e suas promessas.  O arsenal de fertilizantes químicos, agrotóxicos, medicamentos veterinários e depois os transgênicos nos fascinaram,  mas não cumpriram sua principal promessa de acabar com a fome, além de provocar  inúmeros problemas de contaminação  do ambiente, pessoas e alimentos e, ainda,  elevar os custos de produção.  Sem dúvida houve grande aumento da produção de alimentos no mundo, entretanto  a fome não foi resolvida. E o Brasil é um claro exemplo disso, somos o terceiro maior produtor de alimentos do mundo, principalmente grãos e carne e, no entanto,  33 milhões de brasileiros passam fome. A fome aqui não é por falta de comida. 

Em todo o mundo cresce a preocupação com o aquecimento global, com o uso de agrotóxicos e também  surgem questionamentos quanto os princípios éticos de criação dos animais mantidos em confinamento onde o bem-estar dos animais é comprometido. Nesta discussão surgem propostas bem diferentes, quase opostas. 

 Por um lado, multiplicam-se em vários países os modelos agroecológicos de produção de alimentos onde a preservação dos biomas e o bem-estar das pessoas e dos animais é priorizado. Aqui no Brasil, o consumo de alimentos orgânicos vêm aumentando ao redor de 30% ao ano desde a pandemia,  provavelmente pela percepção das pessoas de que os orgânicos são mais saudáveis em relação a possíveis resíduos químicos e mais nutritivos, além de mais saborosos. Segundo a FAO, os alimentos orgânicos têm maiores índices de vitaminas, minerais e Ómega 3. Nosso país com sua imensidão de terras férteis, abundancia de águas e clima ameno tem todas as condições para produzir alimentos de origem vegetal e animal em modelos agroecológicos que convivem,  preservam e recuperam biomas e os animais silvestres. 

Por outro lado,  entraram em cena os alimentos de base vegetal que usam  como emblema a ilusão de estar salvando o planeta e defendendo os animais. Porém, o que muitos desconhecem é que estes alimentos , na sua grande maioria, são provenientes de monoculturas vegetais que substituem a vegetação natural acabando com o habitat dos animais silvestres. Além disso, a maioria usa toneladas de agrotóxicos que envenenam e diminuem sensivelmente a recuperação dos biomas naturais. Aqui, do nosso Pampa resta cerca de 40% pelo avanço das lavouras principalmente de soja. E ainda, mais recentemente surgiram os alimentos ultra processados e células cultivadas em laboratório trazidos por empresas que apresentam soluções tecnológicas que visam substituir produtos de origem animal e outros alimentos. Assim, alimentos reais e ricos em nutrientes estão desaparecendo gradualmente. Tem mel que não é de abelhas, carne que não vem de animais , leite que não vem da glândula mamária de mamíferos, pescados que não vem da água, todos com um aparência, coloração, aroma e  sabor artificiais. Claro que todos somos livres para escolher o que queremos comer, mas o nome deve ser claro e não um engodo. Por que chamar de leite , carne, manteiga, queijo, mel, peixe, produtos oriundos de estratos de plantas ou do cultivo de células em laboratório? 

Para Vanda Shiva  “ a agricultura industrial está reinventando seu futuro com base na “agricultura falsa” com “alimentos falsos”, com produtos químicos e OGMs, drones de vigilância e spyware. Agricultura sem agricultores, agricultura sem biodiversidade, agricultura sem solo, é a visão de quem já nos levou à beira da catástrofe. É por isso que a carne artificial, investida pelos magnatas gigantes da pecuária industrial, não são alternativas viáveis. Nas últimas décadas, tivemos a ilusão de que os químicos e as corporações eram os que alimentam o mundo, mas o que realmente alimenta o mundo é a terra, o sol, a água, a fotossíntese, os insetos que polinizam os cultivos,  os micro-organismos que produzem nutrientes para as plantas e os animais que reciclam e fertilizam o solo e proporcionam nossos alimentos. A  comida deixou de ser uma fonte de nutrientes e se tornou um produto, algo com o qual se especula e se obtém um benefício econômico. A grande ameaça para o bem-estar do planeta e a saúde de seus habitantes é a agricultura globalizada e industrial e sua forma de produzir, processar e distribuir os alimentos”. 

E você, qual tipo de alimento prefere ter no seu prato?

Referências: 

SHIVA, V. ¿Quién alimenta realmente al mundo? El fracaso de la agricultura industrial y la promesa de la agroecología. Trad. Amélia Pérez de Villar. Madrid: Capitán Swing, 2017.

*Angela Escosteguy, médica veterinária, diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM), email: angelaibembrasil@gmail.com.

MANUAL DE AVICULTURA ORGÂNICA ORIENTA SETOR PRODUTIVO

SAIBA O QUE OBRIGATÓRIO, O QUE É PROIBIDO E O QUE É RECOMENDADO.

Buscando orientar técnicos, produtores, criadores, estudantes, professores e profissionais interessados sobre as normas de criação de aves em sistema orgânico de produção, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Instituto do Bem-Estar (IBEM), em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), lançam o Manual de Avicultura Orgânica, com foco nas galinhas de postura e frangos de corte (Gallus gallus domesticus). A publicação faz parte de uma série sobre produção animal orgânica, sistema de produção que vem crescendo no Brasil e no mundo e é carente de informações técnicas específicas.

“Este manual traz um conteúdo técnico e atualizado de fácil leitura para todos os produtores e profissionais. Certamente será uma importante ferramenta na difusão da pecuária orgânica brasileira”, explica a auditora fiscal federal agropecuária, Michele de Castro Iza.

O conteúdo informa o que é proibido, o que é obrigatório e o que é recomendado a fazer na produção de aves orgânicas, tendo em vista a atualização da legislação de produção orgânica brasileira, pela publicação da Portaria 52/2021.

“Quando o objetivo é a produção e comercialização de carne ou ovos orgânicos certificados, todos os detalhes devem atender exatamente o estabelecido pela legislação brasileira de produção orgânica, além das normas para registro de estabelecimentos avícolas exigidos pelos Serviços Veterinários Oficiais”, explica a médica veterinária e diretora do IBEM, Angela Escosteguy.

Aos criadores que atuam no sistema orgânico de produção ou aqueles que pretendem converter ou iniciar nesse ramo, o manual de Avicultura Orgânica é organizado em temas como documentação, conversão, bem-estar animal, nutrição, ambiente da criação e sanidade.

Eventos

A divulgação do manual ocorrerá em diversos eventos com a participação de técnicos, estudantes e produtores.

No dia 18, o lançamento ocorrerá na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ). Em Brasília, será realizada uma roda de conversa sobre Avicultura Orgânica, no dia 23 de agosto, no Instituto Federal de Brasília (IFB). Nos dias 25 e 26, São Paulo terá palestras de apresentação do Manual na sede da Fundação Mokiti Okada e na sede do Projeto Natureza Conecta. Já no dia 29, será realizado um evento na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis.

“A demanda por produtos orgânicos vem aumentando significativamente em nosso país e no mundo. O consumidor está cada vez mais atento às características positivas que o produto orgânico agrega. A produção animal orgânica precisa ser estimulada cada vez mais, pois nosso país tem grande potencial para a aplicação dos requisitos para a qualidade orgânica e bem-estar animal”, ressalta a coordenadora da Produção Orgânica, Virgínia Lira.

O Manual pode ser acessado gratuitamente através do QR Code na imagem.

CERCA VIVA DE MANDIOCA NA AVICULTURA  AGROECOLÓGICA

Por: Márcia Guelber Salles*

A cerca viva de mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma tecnologia agroecológica que foi desenvolvida pela família de Lutemir e  Verônica Trés, em Jaguaré, Espírito Santo, no ano de 2005. A família queria dividir o cafezal para fazer o manejo rotativo das galinhas caipiras e utilizou as hastes do cultivo local de mandioca  para a implantação da cerca.

Era uma pesquisa participativa! Assim, a cerca viva da Família Trés também foi implantada na Unidade Experimental de Produção Animal Agroecológica – UEPA, no Incaper, em Linhares. Além de permitir a divisão dos piquetes de pasto da área de avicultura, essa tecnologia passou a ser monitorada para a avaliação de suas funções ecológicas e produtivas no sistema, como proteção contra fugas e entrada de predadores, fornecimento de sombra e produção de biomassa para alimentação das galinhas. 

Desde então os resultados são surpreendentes!
Em primeiro lugar porque é muito fácil implantar! São escolhidas as hastes mais retilíneas e vigorosas, que são plantadas em sulco, a uma profundidade de 0,20 m.  As hastes são dispostas em fileira num espaçamento de três a cinco centímetros e são aparadas após o plantio, na  altura  desejada, que em média alcança cerca de 1,50 m.

Para mantê-las firmes e favorecer o enraizamento é necessário um tutor a cada  três metros aproximadamente e uma haste de bambu ou ripa de madeira transversalmente, mantendo-as no prumo com o auxílio de um  fio de arame.

A cerca tem uma vida útil de aproximadamente três anos, o que dependerá do solo, dos tratos culturais, principalmente das podas!
As podas periódicas além de renovarem a cerca através da rebrota, são excelente material para a produção de feno ou ensilagem: uma fonte muito nutritiva, com alto teor de proteína e carotenos para a alimentação das aves.
Além destas funções, a formação arbustiva da cerca  proporciona uma sombra generosa para o abrigo das aves contra o sol e os ventos, melhorando o conforto térmico e o bem estar durante o pastoreio.

E assim, quando a cerca tiver que ser refeita, as estacas poderão ser retiradas do próprio cultivo, a porção superior poderá ser aproveitada para a fabricação de ração, após secagem e trituração das folhas e ramos finos, assim como as raízes,  beneficiadas em forma de mandioca puba ou farinha integral.

Possuindo tantos atributos, esta cerca apresenta custo bastante reduzido e grande eficiência, porque acima de tudo ela é viva e contribui para sequestrar carbono na natureza!

Márcia Guelber Salles, Médica Veterinária, autônoma. E-mail: marciaguelber@gmail.com.

GALINHEIRO/AVIÁRIO MÓVEL NOS SISTEMAS ORGÂNICOS

Por Angela Escosteguy*

O chamado galinheiro móvel  vem sendo cada vez mais usado nas propriedades orgânicas ou de  base agroecológica, tanto de forma isolada junto a pomares ou hortas para manter a vegetação baixa, quanto acompanhando a rotação do gado no campo,  geralmente poucos dias após a saída dos ruminantes. Desta forma as aves ao esgravatar o esterco, ajudam a sua incorporação no solo e ainda ingerem ovos e larvas de parasitas que estejam presentes. Com o deslocamento do galinheiro,  as aves vão mudando de lugar o que possibilita a recuperação da pastagem e ajuda a cortar o ciclo dos seus parasitos.

Pode ser de variados tamanhos e formatos, de acordo com o local e se possível leve, ou com rodas para facilitar o deslocamento. Estruturas maiores e mais pesadas requerem um trator para serem deslocadas. O objetivo da estrutura é proteger  as aves tanto de depredadores quanto dos rigores do clima. Pode ser feita de qualquer material, inclusive utilizando materiais reaproveitáveis e disponíveis na propriedade, como sobras de materiais de construção (tubos, madeiras, forros de PVC), bambu etc. Para melhor conforto térmico, poderá ser disposto sobre ele uma  cobertura de lona ou  ramos de vegetais, reduzindo a insolação sobre o aviário. Em locais e períodos muito quentes, o aviário deve ser colocado embaixo de árvores. 

Deve conter no interior os poleiros, ninhos, bebedouros e comedouros. Estes  deverão ser mantidos no interior do galinheiro ou em instalações providas de proteção ao ambiente externo, por meio de telas ou outro meio para evitar o acesso das aves silvestres. Geralmente a coleta dos ovos é feita por fora, numa abertura atrás dos ninhos. 

Importante : se for criação orgânica certificada as aves não devem ficar presas dentro deste abrigo todo o tempo. Elas  devem ter acesso a área externa no mínimo durante 6 h do dia. Por isso, pode acompanhar esta estrutura uma cerca ao redor do aviário, delimitando a área onde as aves irão transitar durante o dia. A cerca poderá ser fixa (inclusive cerca viva)  ou móvel. A densidade de aves tanto dentro do aviário quanto a área fora, delimitada pela cerca deve obedecer ao estipulado pela legislação de produção orgânica.

Vantagens dos aviários em vários pontos da propriedade:

– Fertilização do solo 

      Fertilizam o solo com seus dejetos de alta qualidade e ao esgravatar o esterco de outros animais  ajudam na sua incorporação no solo; 

– Controle de parasitoses e insetos :

        Comem ovos e larvas de carrapatos e outros parasitos e  insetos indesejados;

– Manejo da pastagem: 

Auxiliam a manter a pastagem mais baixa. Podem ser usados em pomares ou jardins no lugar da capina ou mesmo herbicidas. 

*Angela Escosteguy, médica veterinária, diretora do IBEM. E-mail: angelaibembrasil@gmail.com.

DIA DE CAMPO SOBRE PECUÁRIA ORGÂNICA NA FAZENDA MARTIMAR

Por Angela Escosteguy*

Neste fim de semana tivemos o Dia de Campo na Fazenda Martimar, em Canguçu/RS.

A fazenda  está em transição para produzir carne orgânica e tem uma parceira com a Embrapa no projeto lone tick para controle de carrapatos através do manejo das pastagens.

Depois o  Med. Vet Adriano Echevarne da empresa Curantur relatou os resultados do uso de seus medicamentos homeopáticos no gado.Ã tarde ocorreram atividades em grupo sobre o passo a passo para a fase de transição.

Minha tarefa foi organizar o encontro e capacitar as pessoas  que querem criar animais no sistema orgânico de acordo com a legislação brasileira.

Conforme a professora da FAVET/UFRGS, Vera Ribeiro, especialista em ectoparasitos, “encontros como este proporcionam um olhar diferenciado e  momentos ricos de aprendizado e reflexões para avançarmos na construção de uma mundo mais harmonioso não só para os animais mas para todos nós”.

Para Márcia Duarte, proprietária da fazenda, o encontro proporcionou momentos especiais, com muita troca de experiências  e informações importantes para a fase de transição que estão vivenciando.

Para mim é sempre muito gratificante colaborar com o crescimento deste setor e  constatar seu desenvolvimento.

Lindo de ver!

  • Angela Escosteguy é Médica Veterinária pela UFRGS, com mestrado no Instituto Nacional Agronômico de Paris-Grignon. Especialista em Pecuária Orgânica, atualmente é Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM). Contato: ibembrasil.org@gmail.com.

DIA DE CAMPO NA FAZENDA MARTIMAR CANGUÇÚ/RS, 8 E 9 DE ABRIL

O Instituto do Bem-Estar (IBEM) promove o Dia de Campo na Fazenda Martimar, no município de Canguçu/RS, com o objetivo de avançar nas práticas de manejo agroecológico de animais em transição ao sistema orgânico de produção.

CONTEÚDO

– Planejamento da transição à Pecuária Orgânica

– Controle de carrapato no sistema orgânico: manejo de pastagens (sistema lone stick) e uso de homeopatia

PÚBLICO-ALVO  

Aberto à comunidade em geral, a atividade visa compartilhar conhecimentos para qualificar produtores, estudantes, técnicos, entre outros profissionais de diversas áreas interessados em conhecer o sistema orgânico de criação de bovinos e ovinos. 

FACILITADORES  

Angela Escosteguy – Médica Veterinária pela UFRGS e Mestre em Ciências Alimentares  pelo Instituto Nacional Agronomico de Paris-Grignon, França.  Presidente do Instituto do Bem-Estar (IBEM), especializada em Pecuária Orgânica. 

Márcia Duarte –  Produtora rural presidente da ACAF – Associação canguçuense da agricultura familiar e participante do conselho do Prodel nas câmaras técnicas da agricultura, pecuária e turismo.

PROGRAMAÇÃO

Dia 08 de abril – sexta- feira (19 h às 21 h)

Inscrições

Jantar

Abertura e roda de apresentação

Dia 09 de abril – sábado ( 08 às 17h)

Café

Distribuição de material

Apresentação da Fazenda Martimar

Apresentação o Projeto lone stick

Caminhada na propriedade

Almoço 

Análise do Guia Transição à Pecuária Orgânica  

Discussão em grupos

Planejamento da transição ao sistema orgânico da fazenda Martimar

Noções sobre uso de homeopatia

Café

INVESTIMENTO

Inclui atividades  e alimentação na fazenda Martimar.

Dia 8 – jantar

Dia 9 – café da manhã, almoço e café da tarde.

Bônus : Guia Transição à Pecuária Orgânica (on-line)

DATA Público em geral Ex alunos IBEM Estudantes* 
 ATÉ 04/04 190,00 160,00 100,00
 APÓS 04/04 230,00     200,00 120,00

*. Estudantes devem enviar o comprovante da matrícula no semestre.

Inscrição: Enviar nome, endereço, telefone,  e-mail , comprovante do depósito para (51) 99967-1607 ou por e-mail: ibembrasil.org@gmail.com

PIX: 21026742072

ALOJAMENTO: 

A Fazenda Martimar fica a 27 km da cidade de Canguçú.

Hoteis em Canguçu:

Hotel Veneto: (53) 8412-0065 

Hotel Canguçu Express: (53) 98427-4409

Acampamento. Quem desejar pode levar a sua barraca para acampar na fazenda. Fazer contato direto com Márcia: (53) 9979-3014.

SAIBA MAIS 

SOBRE A FAZENDA MARTIMAR:

https://www.cangucu.rs.gov.br/portal/turismo/0/9/4902/fazenda-martimar

SOBRE O PROJETO LONE STICK

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/64261557/projeto-controle-do-carrapato-faz-avaliacao-no-sul

Atrações que podem ser visitadas no domingo:

Olivais da Serra dos Tapes.

https://casaverde.tur.br/produtos/olivais-da-serra-dos-tapes/

LIVE HOMEOPATIA NA PECUÁRIA

Dia 29 de março, a partir das 19:30 h ocorreu uma Live com o Med. Vet João Vasco Dutra que é gaúcho e trabalha em SC. Ele fez o relato dos resultados do uso da homeopatia em bovinos para controle de parasitos, mamite, verrugas etc. O manejo rotacionado baixa a contaminação ambiental dos parasitas e patógenos, e a homeopatia fortalece as defesas naturais. Estratégia excelente para sistemas orgânicos!

LARVAS DE MOSCA SOLDADO NEGRO (HERMETIA ILLUCENS) NA ALIMENTAÇÃO DE GALINHAS

Por *Marcelo Tempel Stumpf 

A mosca Soldado Negro (Hermetia illucens – Figura 1) é um inseto que coloniza resíduos orgânicos e dejetos sólidos animais. Essa espécie é vista como um inseto benéfico, uma vez que converte resíduos, tais quais o esterco, restos de alimentos e outros materiais orgânicos (biomassa de resíduos), em proteína animal (biomassa de insetos) de excelente valor nutricional. Ao mesmo tempo em que diminuem impactos ambientais negativos, podem ser utilizados como alternativa alimentar para os animais de criação, como as galinhas.

Essas moscas apresentam um ciclo de vida de 45 dias, dentro dos quais passam por estágios de ovos, larvas e pupas (Figura 2) antes de se tornarem adultos. Esse período final da vida dura cerca de nove dias, quando as moscas consomem somente água (não se alimentam), se reproduzem, ovipositam e morrem. Seu uso como alimento para os animais é entre as fases de larva e pupa, quando contêm altos teores proteicos. Um compilado de estudos feito por Wang & Shelomi (2017) demonstra valores de proteína bruta na farinha de larvas de mosca Soldado Negro de 37,9% a até 47,6% quando as mesmas se alimentam de dejetos animais. Abd El-Hack et al. (2020) encontraram níveis proteicos acima dos da soja, com teores superiores em lisina e metionina, além de quatro outros aminoácidos. 

Seu uso na nutrição de aves já foi estudado (Ruhnke et al., 2017) e os achados demonstram que tal farinha é promissora fonte nutricional, garantindo satisfatória produção quando compõe dietas. Segundo dados dos mesmos autores, as larvas da mosca são altamente palatáveis e as galinhas apreciam seu sabor, até mesmo preferindo esse alimento ao invés dos baseados em trigo e soja. 

            Importante: a dificuldade em produzir farinha de larvas em grande quantidade, a ponto de ser uma fonte nutricional de longo prazo inserida em uma dieta formulada, faz com que esse tipo de alimento seja bem visto como um acréscimo à dieta, com as galinhas tendo nas larvas mais uma fonte de proteína. Nesses casos o ideal é fornecê-las vivas, logo após captura. 

            Para iniciar a produção de larvas é preciso de um ambiente no qual o ciclo de vida do inseto possa ocorrer. As moscas adultas necessitam de um local seco e abrigado onde possam botar os ovos; uma dica é usar papelão cortado ao meio (as moscas ovipositam nas fendas do papelão) e colocar sobre um local com restos orgânicos, podendo ser uma composteira ou recipiente contendo resíduos (mistura de esterco de aves e água é um bom atrativo).

           Quando eclodem, as larvas caem no resíduo orgânico e se alimentam de forma voraz, crescendo até atingir as fases de pré-pupa e pupa. Na fase de pré-pupa o inseto migra para um local seco para poder avançar no ciclo de vida. Com isso em mente, a captura pode se dar de diferentes formas, bastando haver uma rota para que os insetos saiam do composto orgânico em busca de um local seco. A Figura 3 traz um recipiente com resíduos orgânicos onde as larvas se alimentam e avançam em seu ciclo de vida; marcado com setas estão as rampas de fuga das pré-pupas, as quais conduzem os insetos até um balde de coleta. Cabe a ressalva de que não se trata de um sistema de criação sem controle nenhum e com dejetos/restos orgânicos sendo largados em qualquer local da propriedade, pois isso acaba atraindo outros insetos e roedores, sendo fonte de disseminação de patógenos

 Para melhor controle populacional, é possível o uso de tela no entorno do criatório (Figura 4).

Apesar de sua baixa utilização em sistemas de criação animal locais, pensar alternativas alimentares é sempre interessante quando tratamos de sistemas agroecológicos, os quais prezam pela otimização no uso da energia local e na maior autonomia de criadores e criadoras. 

Abd El-Hack, M.E. et al. Black Soldier Fly (Hermetia illucens) Meal as a Promising Feed Ingredient for Poultry: A Comprehensive Review. Agriculture, v.10, 2020. 

Ruhnke, I. et al. Feed refusal of laying hens – A case report. In Proceedings of the 28th Annual Australian Poultry Science Symposium, Sydney, New South Wales, Australia, 13–15 February 2017. pp. 213–216.

Wang, Y., Shelomi, M. Review of Black Soldier Fly (Hermetia illucens) as Animal Feed and Human Food. Foods, v.6, 2017

  • Marcelo Tempel Stumpf é Engenheiro Agrônomo pela UFPel, com mestrado e doutorado em Zootecnia pela UFRGS. Atualmente é professor do curso de Bacharelado em Agroecologia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Contato: marcelo.stumpf@furg.br

RAÇAS E VARIEDADES DE GALINHAS PARA AVICULTURA ORGÂNICA

Med. Vet. Flávio Figueiredo*

A avicultura teve um período inicial quando, em diversas partes do mundo, foram selecionadas populações de galinhas para atender necessidades diversas e específicas, muitas vezes ligadas a determinadas regiões e suas peculiaridades culturais (1800 a 1900). Neste período houve uma estruturação destas populações que acabaram por se consolidarem em “raças puras”. Como exemplo temos as raças Leghorn (mediterrânea), Sussex, Orpington e Cornish (Europa), Rhode Island Red (USA) Brahma e Cochinchina (Ásia).

Logo após a avicultura assume um caráter comercial (1930 a 1970), quando são estabelecidos sistemas de produção ao ar livre, os quais possuíam semelhanças com os sistemas de produção orgânicos de hoje. Surgiram então novas raças, oriundas de cruzamentos entre as raças antigas. Exemplos são a New Hampshire, a Plymouth, a Wyandotte e a Gigante Negro de Jersey, nas quais a produtividade, a precocidade, a docilidade, a capacidade de forrageamento e a rusticidade foram selecionados.

A partir de 1960 a avicultura se desenvolve como uma atividade intensiva, quando o acesso ao ambiente externo foi restringido até se constituir em sistemas totalmente fechados (“industriais”). Para estes sistemas foram selecionadas populações oriundas de cruzamentos das raças puras, mas que sofreram um processo drástico de seleção, formando linhagens com índices produtivos extraordinários. As principais raças utilizadas foram a Leghorn e a Rhode Island Red para produção de ovos e a Plymouth e a Cornish para produção de carne.

Raças puras de produção: Wyandotte, Orpington e New Hampshire e Sussex sendo criadas para utilização como reprodutores em sistemas ao ar livre

Atualmente encontramos diversas linhagens industriais que estão disponíveis no mercado para serem utilizadas na avicultura industrial e que se adaptam também a produção orgânica e sistemas ao ar livre, das quais destacamos as variedades Isa Brown para produção de ovos e Hendrix para produção de carne.

Com o retorno dos sistemas de produção ao ar livre, surgiram novas linhagens também baseadas no cruzamento de raças puras, criadas para atender a nova realidade destes sistemas. A genética SASSO na França a EMBRAPA no Brasil apresentam diversas variedades com este propósito, sendo opções interessantes e com viabilidade econômica para os sistemas de produção ao ar livre. Estas variedades estão disponíveis e podem ser utilizadas com sucesso na avicultura orgânica. ́

Ainda é importante considerar as raças autóctones, que foram selecionadas ao longo de anos em diversas regiões do mundo fixando características produtivas importantes e adaptadas as culturas regionais onde foram estabelecidas.

No Brasil é destaque a raça Canela-Preta oriunda de cruzamentos de raças trazidas por imigrantes no período colonial que sofreram isolamento genético que permitiu a manutenção de suas características até os dias atuais.

A Canela-Preta é encontrada no nordeste brasileiro, e vem sendo pesquisada visando seu aproveitamento em sistemas de produção ao ar livre.

Contudo, as variedades hoje disponíveis para avicultura orgânica ainda deixam a desejar em alguns aspectos. A incapacidade de aproveitar satisfatoriamente os nutrientes contidos nos pastos e vegetais, a necessidade de alimentos com elevados conteúdos protéicos para viabilizar a produção, a baixa capacidade de forrageamento, e a baixa resliência são alguns exemplos de “gargalos” que podem ser superados.

Sem dúvida, as raças puras formadoras e as raças autóctones devem ser resgatadas e preservadas e ainda melhor estudadas, pois se constituem a base genética para seleção de novas populações para serem utilizadas na avicultura orgânica a qual preconiza em seus sistemas de produção o aproveitamento de alimentos alternativos, um baixo impacto ambiental, constante desafio ambiental e a ausência de tratamentos quimioterápicos.

  • Flávio Figueiredo é Médico-Veterinário pela UFPEL, com Mestrado em Bioquímica pela UFRGS. Membro da Comissão de Pecuária Orgânica do CRMV/RS. Atualmente é produtor de ovos orgânicos. Contato: flaviofigueiredo@gmail.com