LARVAS DE MOSCA SOLDADO NEGRO (HERMETIA ILLUCENS) NA ALIMENTAÇÃO DE GALINHAS

Por *Marcelo Tempel Stumpf 

A mosca Soldado Negro (Hermetia illucens – Figura 1) é um inseto que coloniza resíduos orgânicos e dejetos sólidos animais. Essa espécie é vista como um inseto benéfico, uma vez que converte resíduos, tais quais o esterco, restos de alimentos e outros materiais orgânicos (biomassa de resíduos), em proteína animal (biomassa de insetos) de excelente valor nutricional. Ao mesmo tempo em que diminuem impactos ambientais negativos, podem ser utilizados como alternativa alimentar para os animais de criação, como as galinhas.

Essas moscas apresentam um ciclo de vida de 45 dias, dentro dos quais passam por estágios de ovos, larvas e pupas (Figura 2) antes de se tornarem adultos. Esse período final da vida dura cerca de nove dias, quando as moscas consomem somente água (não se alimentam), se reproduzem, ovipositam e morrem. Seu uso como alimento para os animais é entre as fases de larva e pupa, quando contêm altos teores proteicos. Um compilado de estudos feito por Wang & Shelomi (2017) demonstra valores de proteína bruta na farinha de larvas de mosca Soldado Negro de 37,9% a até 47,6% quando as mesmas se alimentam de dejetos animais. Abd El-Hack et al. (2020) encontraram níveis proteicos acima dos da soja, com teores superiores em lisina e metionina, além de quatro outros aminoácidos. 

Seu uso na nutrição de aves já foi estudado (Ruhnke et al., 2017) e os achados demonstram que tal farinha é promissora fonte nutricional, garantindo satisfatória produção quando compõe dietas. Segundo dados dos mesmos autores, as larvas da mosca são altamente palatáveis e as galinhas apreciam seu sabor, até mesmo preferindo esse alimento ao invés dos baseados em trigo e soja. 

            Importante: a dificuldade em produzir farinha de larvas em grande quantidade, a ponto de ser uma fonte nutricional de longo prazo inserida em uma dieta formulada, faz com que esse tipo de alimento seja bem visto como um acréscimo à dieta, com as galinhas tendo nas larvas mais uma fonte de proteína. Nesses casos o ideal é fornecê-las vivas, logo após captura. 

            Para iniciar a produção de larvas é preciso de um ambiente no qual o ciclo de vida do inseto possa ocorrer. As moscas adultas necessitam de um local seco e abrigado onde possam botar os ovos; uma dica é usar papelão cortado ao meio (as moscas ovipositam nas fendas do papelão) e colocar sobre um local com restos orgânicos, podendo ser uma composteira ou recipiente contendo resíduos (mistura de esterco de aves e água é um bom atrativo).

           Quando eclodem, as larvas caem no resíduo orgânico e se alimentam de forma voraz, crescendo até atingir as fases de pré-pupa e pupa. Na fase de pré-pupa o inseto migra para um local seco para poder avançar no ciclo de vida. Com isso em mente, a captura pode se dar de diferentes formas, bastando haver uma rota para que os insetos saiam do composto orgânico em busca de um local seco. A Figura 3 traz um recipiente com resíduos orgânicos onde as larvas se alimentam e avançam em seu ciclo de vida; marcado com setas estão as rampas de fuga das pré-pupas, as quais conduzem os insetos até um balde de coleta. Cabe a ressalva de que não se trata de um sistema de criação sem controle nenhum e com dejetos/restos orgânicos sendo largados em qualquer local da propriedade, pois isso acaba atraindo outros insetos e roedores, sendo fonte de disseminação de patógenos

 Para melhor controle populacional, é possível o uso de tela no entorno do criatório (Figura 4).

Apesar de sua baixa utilização em sistemas de criação animal locais, pensar alternativas alimentares é sempre interessante quando tratamos de sistemas agroecológicos, os quais prezam pela otimização no uso da energia local e na maior autonomia de criadores e criadoras. 

Abd El-Hack, M.E. et al. Black Soldier Fly (Hermetia illucens) Meal as a Promising Feed Ingredient for Poultry: A Comprehensive Review. Agriculture, v.10, 2020. 

Ruhnke, I. et al. Feed refusal of laying hens – A case report. In Proceedings of the 28th Annual Australian Poultry Science Symposium, Sydney, New South Wales, Australia, 13–15 February 2017. pp. 213–216.

Wang, Y., Shelomi, M. Review of Black Soldier Fly (Hermetia illucens) as Animal Feed and Human Food. Foods, v.6, 2017

  • Marcelo Tempel Stumpf é Engenheiro Agrônomo pela UFPel, com mestrado e doutorado em Zootecnia pela UFRGS. Atualmente é professor do curso de Bacharelado em Agroecologia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Contato: marcelo.stumpf@furg.br
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