CONBRAVET DEBATE PECUÁRIA ORGÂNICA – BELÉM

Novos desafios e oportunidades para a classe veterinária

O XLIII Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária ocorreu de 4 a 8 de dezembro,  em Belém (PA), reunindo cerca de 1.200 médicos veterinários do Brasil e exterior.

A Seção de Pecuária Orgânica foi organizada pela VET-ORG – Comissão de Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária e iniciou com a palestra da Dra. Angela Escosteguy, presidente do IBEM (Instituto do Bem Estar), abordando o tema “Bases, oportunidades e desafios da Pecuária Orgânica”. A programação seguiu com uma mesa-redonda, da qual participaram a Dra. Ângela Mocelim (Emater/PA) – que falou sobre “A Pecuária Orgânica no Pará”, e o Dr. Clovis Improta (SC) – que discorreu sobre “A importância da educação voltada para Pecuária Orgânica”.

Oportuno e atual, o tema suscitou muitos debate sobre a necessidade de conciliar  preservação da Amazônia, produção de alimentos e sustentabilidade, constituindo grandes desafios e questionamentos para a classe veterinária:  Quais animais e de que maneira podem ser criados na Amazônia de forma realmente sustentável, visando a produção de alimentos e a geração de renda prioritariamente às populações locais, preservando a floresta? Como recuperar as áreas desmatadas/alteradas? Como atender as demandas atuais: produzir alimentos sem resíduos tóxicos, preservando a natureza e respeitando o bem estar animal?

Após o Congresso, as palestrantes Angela Escosteguy e Ângela Mocellin foram à Ilha de Marajó para conhecer as perspectivas de criação de búfalos orgânicos no local. Para as técnicas, a ilha reúne condições ideais para criações orgânicas, pois está fisicamente isolada e encontra-se praticamente virgem.

OVOS DE GALINHAS LIVRES DE GAIOLA

O Grupo GPA – que comercializa ovos da marca Taeq -, lançou em julho no Brasil ovos comuns provenientes de galinhas criadas livres de gaiolas. A empresa garante que até 2025 toda a linha convencional estará nesta nova categoria, atendendo uma tendência mundial dos consumidores de buscar produtos provenientes de animais criados com qualidade de vida e bem estar.

Na avaliação da presidente do IBEM, Angela Escosteguy, foi um importante passo no atendimento ao bem-estar animal. “Não são orgânicos, portanto, não há diferença de qualidade do produto para os consumidores, mas representa um avanço em termos de bem estar animal”, pontuou. Embora ainda dentro de galpões, as galinhas podem caminhar, dormir em poleiros e realizar a postura em ninhos, condições melhores se comparadas às aves que passam toda a vida dentro de uma gaiola. “Produção e consumo ético merecem todo o apoio”, reforçou.

BEM-TE-VI É O NOVO GRUPO DE CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA COM FOCO NA ÁREA ANIMAL

Em março deste ano, foi oficialmente criado o novo grupo de certificação participativa da Rede Ecovida de Agroecologia. Batizado de Bem-te-vi, o grupo tem como foco principal a área animal e pretende acompanhar criadores de animais orgânicos que desejam certificar seus produtos através de SPG –Sistema Participativo de Garantia da Rede Ecovida.

As reuniões para a formação do novo grupo iniciaram em julho de 2016, com a orientação de Pery Marazulo e Heloiza Zuffo, do grupo Tupanba é, de São Francisco de Paula, RS. Pela proximidade geográfica, decidiu-se que o grupo Vale do Caí seria o padrinho do Bem-te-vi.  De acordo com os procedimentos para a certificação participativa e a legislação brasileira de produção orgânica, a vistoria oficial do grupo foi realizada pelo Coordenador do Grupo Vale do Caí, Irineu Scheuer, e por Edimar Moreira Coelho e Jose Vanderlei Cachoeira Silva, ambos do Conselho de Ética do Núcleo Vale do Caí.

Foram avaliadas a Granja Maxgo Jersey e a agroindústria produtora de leite e queijos de Mauro Gouvea, em Tapes, RS, e as criações de poedeiras e suínos da Fazendinha do Pastoreio, de Flávio Figueiredo, em Eldorado do Sul, RS. Estavam presentes durante a vistoria os membros do Conselho Consultor do Grupo Bem-te-vi: Marcelo Stumpf e Eduardo Dias, da FURG, e Luiza Schafer e Angela Escosteguy, do IBEM.

IBEM ASSINA CONVÊNIO COM TRANS DICIPLINARY UNIVERSITY – ÍNDIA

No final de 2016, o Instituto do Bem Estar (IBEM) e a TransDisciplinaryUniversity (TDU), de Bangalore, assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) para colaboração em pesquisa, capacitação, extensão e intercâmbio. O documento garante uma parceria entre o IBEM e a TDU, pioneira em pesquisas e educação na Biologia Ayurveda, nova área transdisciplinar. A colaboração se dará por meio de intercâmbio de alunos e professores, além de apoio em projetos de pesquisa e extensão. Através desta iniciativa, a rede de cooperadores do IBEM está crescendo, permitindo o surgimento de novas e promissoras oportunidades.
A universidade foi reconhecida como Centro Nacional de Excelência em Plantas Medicinais e conhecimento tradicional. Também é a única no mundo a ter um banco de dados sobre a matéria médica Ayurveda, Siddha e sistemas Unani, com informações de conhecimento médico tradicional desde 1500. ATDU oferece somente cursos de pós-graduação e treinamentos em diversas áreas, além de possuir vários laboratórios, campus, horto medicinal e o maior banco de dados de plantas medicinais da Índia.
A universidade tem interesse em intercâmbio com o Brasil, principalmente na área de plantas medicinais de uso na área animal. A Universidade conta com um Grupo de Estudo de Etnoveterinários e um Programa Etnoveterinário para a redução do uso de antibióticos em animais de produção. De acordo com os idealizadores da TDU, a Biologia Ayurveda une o conhecimento ancestral tradicional com o conhecimento moderno de promoção da saúde e, segundo eles, possuir conhecimento aprofundado numa só área não é suficiente para entender a vida e a sociedade.

PECUÁRIA ORGÂNICA AVANÇA NO NORDESTE

O IBEM e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) assinaram Termo de Cooperação Técnica (TCC) paraexecução de atividades em conjunto 26nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. O TCC foi assinado no final de2016, em Recife, logo após a realização do 1º Curso de Introdução à Pecuária Orgânica, organizado pelas duasorganizações. O documento foi assinado pela presidente do IBEM, Angela Escosteguy, e o diretor de Pesquisae Desenvolvimento do IPA, Antonio Raimundo de Souza. Também estavam presentes os coordenadores docurso: Fernando Tenório Filho, supervisor da Estação Experimental de Itambé, e Patrícia Gallindo Carrazzoni,

pesquisadora do IPA.

“Foi dado um importante passo para o desenvolvimento da pecuária orgânica no Nordeste do Brasil, pois pelaprimeira vez uma renomada instituição de pesquisa se abre para intercâmbio de trabalhos e ações nestaárea”, declarou Angela Escosteguy.Conforme Fernando Tenório Filho, o IPA pretende prosseguir as capacitações na área de pecuária orgânica einiciar uma unidade demonstrativa com ovinos orgânicos na Estação de Itambé, em Carpina (PE).

TEMPLE GRANDIN NO BRASIL

Temple Grandin é uma referência mundial na área de bem-estar animal, em especial no manejo de animais de produção. Por ser autista, foi levada muito jovem para uma fazenda onde estabeleceu relações bastante próximas com os animais.  Mais tarde, formou-se em Psicologia e fez Mestrado e Doutorado em Zootecnica. Atualmente, leciona na Universidade de Colorado, nos EUA, e presta consultoria a empresas. Seu autismo lhe possibilitou entender como os animais vêm o mundo e assim encontrar uma forma mais cuidadosa de manejá-los.

A convite da USP/Pirassununga, Temple esteve em julho num evento que reuniu cerca de 500 pessoas de todo o país, entre professores, pesquisadores e estudantes interessados em bem-estar animal.  Além das apresentações orais, conduziu atividades práticas de manejo de bovinos no curral. Para Angela Escosteguy, presidente do IBEM foi uma oportunidade única conhecer de perto uma pessoa tão especial. “Com sua apurada percepção para entender o mundo dos animais e sua energia forte e suave, ela motivou e motiva centenas de empresas e pessoas a melhorar as condições de vida de milhões de animais, nos mostrando ainda como todos podem fazer algo para melhorar o mundo”, enfatizou.

Segundo o coordenador do evento, Dr. Adroaldo Zanella, a cadeia de produção animal está ganhando rápido conhecimento na área de bem-estar animal. Zanella destaca que Temple fala com a mesma eloquência, elegância e conhecimento sobre assuntos que incomodam humanos e assuntos que incomodam animais.“Mais do que isto, ela fala com uma abordagem positiva, de alguém com um histórico de superação de uma condição que é extremamente complexa“, avaliou.

Temple revolucionou os sistemas de produção animal nos Estados Unidos e no Canadá.  Desenvolveu o conceito e o modelo do curral redondo, conhecido no Brasil como anti-stress (veja foto abaixo, do blog  mecanoganadero.blogspot.com.br), e também propôs  melhorias no transporte e abate dos animais.

Leia a seguir as páginas 303-308do livro “O bem-estar dos animais”, de TempleGrandin e Catherine Johnson, Editora Rocco, 2009, publicado no site www.ruralsoft.com.br.

“Tenho pensado muito ao longo dos anos e cheguei à conclusão de que nosso relacionamento com os animais que criamos para comer deve ser simbiótico. Simbiose é uma relação mutuamente vantajosa para dois seres vivos. Damos alimento e abrigo aos animais e em troca usamos as crias desses animais como alimento.

Recordo vividamente o dia seguinte ao que instalei a primeira calha de transporte com trilho central em um matadouro em Nebraska e subi para uma passarela onde via o grande rebanho de gado lá embaixo. Todos aqueles animais iam ser levados à morte por um sistema que eu havia criado.

Comecei a chorar, mas então tive um insight. Nenhum daqueles animais que estavam no matadouro teria nascido se os de sua espécie não tivessem sido criados e alimentados por pessoas. Nunca teriam vivido. As pessoas esquecem que a natureza é cruel e a morte na natureza pode ser muito mais sofrida e dolorosa do que em um matadouro moderno.

Os fazendeiros se esforçam muito para salvar os animais. O ambiente natural pode ser muito cruel. Os animais que pastam, como o gado, carneiros e cabras, são uma parte vital da agricultura orgânica e autossustentável. O estrume é utilizado como fertilizante orgânico, em vez de fertilizantes químicos. Além disso, os animais podem melhorar as pastagens, evitando a desertificação do solo. Os animais de pasto são ainda mais úteis em regiões com baixo índice de chuvas.

Tenho grande preocupação com os programas mundiais de conversão de cereais em combustível, porque vão aumentar a criação intensiva de animais. Nos Estados Unidos e na América do Sul, pastos de ótima qualidade estão sendo transformados em plantações. Em algumas áreas, o gado está sendo transferido dos pastos para currais de engorda. Em muitas terras, a lavoura vai aumentar a erosão do solo e deteriorar o ambiente. O melhor uso dessas terras é para pastagem, onde os animais contribuem para manter a terra saudável.

Frequentemente me perguntam: “Como é possível você gostar de animais e desenhar equipamentos para matadouros?”

Atualmente, a maioria das pessoas se distancia totalmente da morte, mas todo ser vivo morre. É o ciclo da vida. Se as pessoas assumem a responsabilidade de criar animais, devem também assumir a responsabilidade de lhes dar condições de vida decentes e uma morte sem dor. É preciso melhorar as condições de vida dos animais nas fazendas de criação intensiva.

Muita gente acha que a morte é o que pode acontecer de mais terrível ao animal. A meu ver, o mais importante é a qualidade de vida do animal. Para ter uma vida boa é preciso saúde, não ter dores nem emoções negativas e ter sempre muitas atividades que ativem os sistemas “buscar” e “brincar”.