COMO SALVAR O PAMPA?

Angela Escosteguy*

Recentemente fui a Livramento e fiquei apavorada com a paisagem. Onde está nosso Pampa e sua rica biodiversidade, base da nossa cultura e tradições? Por todos lados só vi imensas plantações de soja ou de árvores para papel, verdadeiros desertos verdes e as vezes algumas plantações de arroz ou pomares  E muito de vez em quando, um gadinho remanescente, como que esquecido e de longe parecendo um  bordadinho colorido e vivo naquela paisagem.

Isto tudo começou após a Segunda Guerra Mundial quando veio a Revolução Verde que modificou completamente os sistemas de produção de alimentos e convenceu a todos que o uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos, monoculturas  e a  intensificação dos processos produtivos iria acabar com a fome no mundo. Alguns anos depois foi a vez dos transgênicos  e a venda de sementes patenteadas, prometendo culturas resistentes à pragas, à seca e supostamente  mais nutritivas. Agora assistimos um narrativa crescente que a pecuária deve ser eliminada porque agride o ambiente e a solução então é passaremos a comer alimentos processados de base vegetal ou culturas de células produzidas em laboratório. A agricultura foi substituída pelo agronegócio.

Aliás isso já vem faz tempo. Primeiro condenaram  a banha de porco e logo todos passamos a usar óleo de soja. Depois foi a vez da manteiga, que deu lugar à margarina. Na sequência o ovo e as acusações sobre colesterol. Agora a ciência comprovou que a banha, a manteiga e ovos são mais saudáveis e muito mais ricos em nutrientes que os alimentos de base vegetal que os substituíram. E a carne, tão acusada,  fornece proteínas de alta qualidade e vários nutrientes, alguns dos quais nem sempre são obtidos com dietas vegetais. Ela contém  vitaminas como B12, B, retinol, ômega e ácidos graxos, vários minerais, (como cálcio, ferro e zinco) e uma variedade de compostos bioativos importantes. (Animal Frontiers, 2023).

FOTOS ACERVO IBEM.

Do ponto de vista ambiental, estudos recentes da FAO e da Universidade de Oxford mostram que  o gado bem manejado, aplicando princípios agroecológicos, pode gerar muitos benefícios, incluindo sequestro de carbono, melhoria do solo, biodiversidade, proteção de bacias hidrográficas e prestação de importantes serviços ecossistêmicos. Os herbívoros são parte natural dos ecossistemas mundiais e têm desempenhado um papel fundamental nos últimos milhões de anos. Como o número de herbívoros selvagens diminuiu bastante, em grande parte devido à ação humana, a manutenção de tais funções depende de uma gestão pecuária adequada. A pecuária deve ser aprimorada, mas não reduzida ou suprimida.

Não vejo outra maneira de salvarmos o nosso Pampa e sua biodiversidade se não for com ruminantes conduzidos com princípios agroecológicos. Isso sem falar na geração de trabalho e renda para milhares de pecuaristas familiares.

*Méd. Vet. Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM)  e 

Coordenadora da Comissão de Pecuária Orgânica do CRMV-RS.

PECUÁRIA CONSERVATIVA NO BIOMA PAMPA

Por: Eduardo Antunes Dias *

O Rio Grande do Sul possui um bioma único, o Pampa, sendo que a sua fisionomia é composta por um mosaico vegetal com predominância de gramíneas (Poaceae) do ciclo fotossintético C3, de clima temperado, e C4, de clima quente, ambos estando presentes nos campos barba-de-bode da região das Missões, nos campos de solos rasos e de solos profundos da região da Campanha, nos campos sobre Areais, nos campos da Depressão Central, nos campos do Litoral e na vegetação savanóide da Serra do Sudeste (PILLAR e LANGE, 2015). Na atual época geológica do Holoceno, os bovinos realizam um papel semelhante ao dos herbívoros da megafauna (equídeos, camelídeos, cervídeos gigantes, tatus gigantes, preguiças gigantes, notoungulados, mastodontes, etc) que aqui habitaram até 10.000 anos atrás, no Pleistoceno (KERN, 1997).

Todas estas espécies herbívoras pastadoras, atuais e anteriores, coevoluíram com as espécies vegetais e fazem pressão de pastejo para a manutenção da diversidade das espécies de gramíneas dos estratos de porte baixo (prostradas) e de porte alto (cespitosas), além de contribuírem para o sequestro de carbono. A revisão de 115 estudos em 17 países do efeito do manejo da pastagem sobre a matéria orgânica do solo demostram que as taxas de sequestro de carbono podem chegar até a 3 t C/ha/ano (CONAT et al., 2001). Destaca-se que a bovinocultura está enraizada na cultura gaúcha desde a introdução do gado na época das Missões Jesuítica (século XVII), quando as etnias Charrua e Minuano dominavam o Pampa. Já nos tempos atuais a figura do Pecuarista Familiar que basicamente utiliza os elementos da natureza em sistemas de criação com até 300 ha, auxilia de sobremaneira na manutenção dos estoques bovinos no território e consequentemente conserva a vegetação nativa do Bioma Pampa (MAZURANA, DIAS e LAUREANO, 2016; WAQUILL, 2016).

Foto: Eduardo Amato Bernhard

O manejo adequado realizado no campo nativo por diversas técnicas que se valem do estádio fenológico e da estrutura do pasto, como o ponto ótimo de repouso do Pastoreio Racional Voisin (BERTON e RICHTER, 2011), ou a Oferta de Forragem de 12% do peso vivo de Matéria Seca (PILAR, 2009), ou o Índice de Conservação de Pastagens Naturais – ICP (PARERA, A. e CARRIQUIRY, 2014), ou os 40% de rebaixamento da altura inicial da pastagem no Pastoreio Rotatínuo (PRATES, 2018), são igualmente benéficas para a conservação deste Bioma, tanto que já foram encontradas 57 espécies vegetais em apenas um metro quadrado de campo nativo (GAUCHA ZH CLICRBS, 2015). É possível até mesmo regenerar áreas degradadas com o uso do manejo holístico de rebanhos bovinos (SAVORY, 2020). Quanto aos aspectos nutricionais da carne dos animais criados em campo nativo, esta tem menor teor de gordura total, maior teor de vitamina A, maior teor de ácidos graxos ômega-3, maior relação de ácidos graxos polinsaturados:saturados e maior teor de ácido linoleico conjugado (cLA), sendo que estes últimos elementos têm propriedades anticarcinogênicas e reduzem os riscos de doenças coronarianas (BRIDI, CONSTANTINO e TARSITANO, 2016).

Portanto, o incentivo ao desenvolvimento de uma cadeia econômica de baixo carbono que priorize a conservação e o uso sustentável dos elementos naturais, a produção de alimentos orgânicos com terroair único, a denominação de origem, bem como com a promoção do turismo rural e ecológico, é uma estratégia adequada e eficiente para a conservação do Pampa.

*Eduardo Antunes Dias, médico veterinário, professor dos cursos de Agroecologia e Licenciatura em Educação do Campo da FURG, Campus São Lourenço do Sul. Email: eduardo.dias@furg.br

REFERÊNCIAS:

BERTON, C. T.; RICHTER, E. M. Referências Agroecológicas Pastoreio Racional Voisin (PRV). CPRA:Curitiba, 2011. Disponível em: <https://www.bibliotecaagptea.org.br/zootecnia/forragens/livros/REFERENCIAS%20AGROECOLOGICAS%20PASTOREIO%20RACIONAL%20VOISIN.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

BRIDI, A. M.; CONSTANTINO, C.; TARSITANO, M.A. Qualidade da carne bovina produzida em pasto. GPAC – UEL. 18 p. Disponível em:<http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gpac/pages/arquivos/Qualidade%20da%20Carne%20de%20Bovinos%20Produzidos%20em%20Pasto.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

CONANT, R. T. et al (2001) Grazing land management and conversion into grazing land: effects of soil carbon. Ecological Application, 11:343-355; Braga G. J. (Jan-Jun 2010).

GAUCHA ZH CLICRBS – EDUCAÇÃO E TRABALHO. 27/02/2015. Biodiversidade: Cientistas encontram 57 espécies diferentes em um metro quadrado no Pampa. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2015/02/cientistas-encontram-57-especies-diferentes-em-1-m-no-pampa-4708525.html>. Acesso em 29/05/2023.

KERN, Paleopaisagens e povoamento pré-histórico do Rio Grande do Sul. In: Arqueologia Pré-Histórica do RS (eds. Kern A., Jacobus A., Ribeiro P.M., Copé S., Schmitz P.I., Naue G. e Becker I.B.). Mercado Aberto Porto Alegre, pp. 13-61.

MAZURANA, J.; DIAS, J. E. LOUREANO, L. C. Povos e comunidades tradicionais do Pampa. Pecuaristas Familiares. p. 69-100. Porto Alegre : Fundação Luterana de Diaconia. 2016. Disponível em: <https://fld.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Livro-povos-e-comunidades-tradicionais-do-pampa.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

PARERA, A.; CARRIQUIRY, E. Manual de Prácticas Rurales associadas al Índice de Conservación de Pastizales Naturales (ICP). Aves Uruguay :  Projecto de Incentivos a la Conservacion de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamérica. 204 pp. 2014. Disponível em: <https://pastizalesdelsur.files.wordpress.com/2014/03/manual-icp-18-03.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

PILLAR, V. P.; LANGE, O. Os Campos do Sul/ Porto Alegre:Rede Campos Sulinos – UFRGS, 2015. Capítulo 13 – Produção animal com base no campo nativo: aplicações de resultados de pesquisa. P. 175-198. Disponível em: <http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br/Camposdosul/Campos_do_Sul_TELA.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

PILLAR, V. P. Campos Sulinos – conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. Capítulo 3 – Fisionomia dos campos. P. 31-42. Disponível em: <http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br/arquivos/Livros/CamposSulinos.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

PRATES, A.P. Pastoreio Rotatínuo: o primeiro passo para intensificação sustentável. TCC para obtenção de grau pela Faculdade de Agronomia da UFRGS. 2018. 28 p. <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/187998/001084112.pdf?sequence=1>. Acesso em 29/05/2023.

SAVORY, A. Management must be holistic. Disponível em: <https://savory.global/holistic-management/>. Acesso em 29/05/2023.

WAQUIL, P. D. Pecuária familiar no Rio Grande do Sul: diversidade social e dinâmicas de desenvolvimento. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016, 288p. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/pgdr/wp-content/uploads/2021/12/2016-Livro-Pecuaria-Familiar-no-Rio-Grande-do-Sul-COMPLETO.pdf>. Acesso em 29/05/2023.

CURSO E DIA DE CAMPO PECUARIA ORGÂNICA E HOMEOPATIA

O  Instituto do Bem-Estar (IBEM) em parceria com a Fazenda Santo Antônio promove  o Mini Curso Pecuária Orgânica e homeopatia com o objetivo de avançar nas práticas de manejo agroecológico de animais em transição ao sistema orgânico de produção.

O Curso conta com o apoio do  Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS  e visa qualificar pessoas sobre os sistemas orgânicos de produção animal, com foco na criação de bovinos e uso da homeopatia no gado. 

CONTEÚDO

– Bases da pecuária orgânica

– Planejamento da transição ao sistema orgânico

– Controle de parasitoses em especial o carrapato: uso de homeopatia.

PÚBLICO-ALVO  

Aberto à comunidade em geral, a atividade visa qualificar produtores, estudantes, técnicos, entre outros profissionais de diversas áreas interessados em conhecer o sistema orgânico de criação de bovinos e ovinos. 

FACILITADORES  

Angela Escosteguy – Médica Veterinária pela UFRGS e Mestre em Ciências Alimentares  pelo Instituto Nacional Agronômico de Paris/França.  Membro GT Animal da IFOAM – Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica. Especializada em Pecuária Orgânica, é sócia-fundadora e Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM), 

João Vasco Bandeira Dutra Júnior – Médico Veterinário pela UFPEL, com Especialização em Homeopatia aplicada aos animais e Homeopatia farmacêutica. Atualmente desenvolve assessoria veterinária na gestão e manejo sustentável, bem como desenvolve pesquisas referentes ao controle de parasitas externos de bovinos.

Luiza Rodrigues Cheuiche  – Médica Veterinária pela UFRGS, com Especialização em Modulação hormonal e em Homeopatia. Participou do Curso Pecuária Orgânica IBEM. Proprietária da Toca Consultório Veterinário e Pet shop. Produtora rural na Fazenda Santo Antônio do Parové, em fase de transição para o sistema orgânico.  

LOCAL

Fazenda Santo Antônio do Parové/ Alegrete/RS fica a 46 km (asfalto) da cidade de Rosário do Sul + 4 km internos de terra.

https://maps.app.goo.gl/GezVzKRTWwmvFY9B8

CARGA HORÁRIA 

Dia 9, sexta-feira : aulas teóricas. Das  9:30 h   às 18 :00 h. 

Dia 10, sábado dia de campo com atividades práticas. Das 8:30 h às 17:30 h. 

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aulas teóricas

  • Sistemas de produção de alimentos
  • Bases  da pecuária orgânica
  • Planejamento para  a conversão ao sistema orgânico
  • Sanidade no sistema orgânico
  • Uso de medicamentos homeopáticos (noções)

Atividades práticas

  • Visita à propriedade para exercício de planejamento (passo a passo) para transição ao modelo orgânico
  • Demonstração de preparo de sal homeopatizado 
  • Coleta para realização de nosódio de carrapato. 

INVESTIMENTO

Público em geral Ex alunos IBEM Estudantes / Estudantes pós graduação
300,00 270,00 100,00 / 160,00

*.  Inscrições em grupo com desconto. Faça contato.

Os estudantes devem enviar o comprovante de matrícula para o e-mail: ibembrasil.org@gmail.com

Bônus : Guia Transição à Pecuária Orgânica (on-line).

PARA INSCRIÇÃO: https://forms.gle/4Pr6QkMFEdaTzL6z5

As vagas serão limitadas e por ordem de inscrição mediante comprovante de pagamento.

ALIMENTAÇÃO

Os que desejarem fazer as refeições na fazenda, devem fazer contato direto com a proprietária Luiza: fone : 51 99268-5732.

Café da manhã : 15 reais

Almoço: 25 reais

Coffe breack : 10 reais

Jantar: 25 reais

ALOJAMENTO

A Fazenda fica a 45 km (asfalto) da cidade de Rosário do Sul.

Acampamento. Quem desejar pode levar a sua barraca para acampar na fazenda. Fazer contato direto com Luiza:

pagamento.

ALIMENTAÇÃO

Os que desejarem fazer as refeições na fazenda, devem fazer contato direto com a proprietária Luiza: fone : 51 99268-5732.

.

Hotéis em Rosário do Sul

Hotel Areias Brancas

(55) 3231-2363

Hotel Fazenda da Lagoa Ltda

(55) 3231-2233

Hotel Ibicui Centro

(55) 3231-6188

PARA DÚVIDAS SOBRE O CURSO E ATIVIDADES FAÇA CONTATO:

51 99967-1607 ou ibembrasil.org@gmail.com.

IMPORTÂNCIA DA AMOREIRA  NA SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA DE CAPRINOS A PASTO

Por Elisa Köhler Osmari*

Figura 1: Amoreiras (Morus alba) para suplementação animal

Além da raça e estágio de lactação, a produção de leite dos ruminantes é afetada pela sazonalidade da pastagem. O inverno sul brasileiro favorece pastagens hibernais de alto conteúdo de proteína bruta (PB), com alta resistência ao frio (Moreira et al, 2001) enquanto o verão propicia gramíneas tropicais. Contudo, existem períodos de vazio forrageiro, decisivos para animais em lactação. Nesse contexto, existe a alternativa da suplementação com família Moraceae. (Doringan et al, 2004). A árvore da amoreira (Morus alba) foi introduzida para cultivo do bicho-da-seda no país, antes da produção em massa de tecidos sintéticos. A amoreira possui importância farmacológica e nutricional (Souza, 2021; Barros e Amorim, 2019): na medicina tradicional chinesa, as folhas, frutos e caules de amoreira são usados no tratamento do Diabetes Mellitus, do colesterol, como sedativo, expectorante, analgésico, diurético e antiepilético (Zeni et al, 2010). As folhas da amoreira são ricas em flavonoides utilizados na indústria farmacêutica (Barros e Amorim, 2019; Wang et al. 2008). Não ocorrem grandes diferenças na composição bromatólogica entre amoreiras do gênero Morusdestinadas à produção de frutas. Já o seu uso para alimentação animal está relacionado às pequenas áreas de agricultura familiar, sendo historicamente usada na Ásia, sua região originária (Souza, 2021). 

Para suplementação de caprinos, a amoreira pode ser usada:

•          Como banco de proteína, em ramoneio;

•          Na forma picada no cocho, até 2 cm de diâmetro;

•          Como feno ou pré-secado picado;

•          Em último caso, como silagem, especialmente de folhas.

A maior seleção pelas cabras ocorre no pastejo no banco de proteína, onde os caprinos são soltos no pomar de amoreiras para pastoreio por 1-2 h/dia. Depois voltam para seus piquetes com gramíneas para obter alimentação mais balanceada entre proteína e energia. Além de palatável para caprinos, a amoreira possui folhas com altas quantidades de proteína, elementos minerais, menos celulose e melhor digestibilidade do que a folha de alfafa ou feno de soja (Dorigan et al, 2004). Por outro lado, os galhos finos picados com as folhas fornecem uma boa fonte de fibra efetiva, evitando a queda da gordura do leite, mesmo combinado com suplemento concentrado. O feno de amoreira é um volumoso proteico que, com tamanho de partícula (picado) ideal, não diminui a gordura no leite, ao contrário de dietas com alto teor de concentrados. Por favorecer a flora ruminal que produz esse equilíbrio de ácidos graxos desejáveis (Osmari et al, 2012), aumenta as gorduras saudáveis do leite como o ácido linoleico conjugado (CLA).

O feno pode ser usado para todos os ruminantes, sendo aconselhável, especialmente para vacas leiteiras, com menor seletividade do que os caprinos, não ultrapassar de 2 cm de diâmetro dos ramos a serem cortados para fornecimento no cocho. Se o diâmetro do picado for grande demais, retarda a digestão no rúmen pelas bactérias, limitando o consumo físico. Quando um animal enche o rúmen, mas não obtém os nutrientes necessários, a isso chamamos de fome oculta.

No caso de do consumo voluntário do feno de Morus alba por caprinos em pastejo sobre tifton+aveia, no experimento (Osmari et al, 2009) conduzido em Maringá-PR a espessura dos galhos não ultrapassou 1 cm (diâmetro). Mesmo picado, o feno de amoreira permitiu seletividade pelas cabras lactantes, com visível rejeição de frações do caule lignificado e potencialização da ingestão de proteína e de energia. A proteína bruta média de 20,10% e a digestibilidade in vitro (DIVMS) 72,85% foram afetadas pela espessura dos ramos, proporção de folhas, ocorrências de geada na fenação.

Na Índia, pesquisas sobre alimentação de caprinos exclusiva com amoreira, encontraram ingestão de energia limitada dependendo da meta de ganho de peso. Anbarasu et al (2004) verificaram uma econômica mistura volumosa proteica constituída por: folhas de Leucaena leucocephala, Morus alba e Tectona grandis(2:1:1) para atender 50% do requerimento protéico de cabras, em mistura com dieta basal de palha do trigo substituindo suplementos convencionais, sem efeitos adversos no consumo voluntário, na utilização de nutrientes, nas enzimas séricas ou no status imune. Ba et al (2005) verificaram, em dois experimentos, um aumento do consumo de matéria seca (MS) na ordem de 40%, com a ingestão total de 3,41 kg de MS/ 100 kg de peso vivo (PV) em caprinos em crescimento à pasto, quando a silagem de amoreira suplementar foi fornecida na quantidade de 0,75 kg/dia. Quando a silagem de amoreira foi ingerida sozinha, o consumo foi apenas de 3,02 kg MS/100 kg PV, superior ao consumo de 2,70 kg MS/100 kg PV da dieta somente com pastagem. Um consumo voluntário de 3,91 kg PV/100 kg PV foi relatado por Theng et al (2003), no Camboja, para caprinos em crescimento alimentados somente com folhagens verdes de amoreira, enquanto o consumo atingiu 4,98% do PV com a seleção pelo próprio animal através da suspensão da folhagem (haste com folhas). No entanto, faltam mais trabalhos no Sul do Brasil que expressem seu potencial na forma de desempenho animal para a produção de leite e de carne caprinos, bem como sobre a forma como é oferecida (feno, silagem ou fresca).

* Elisa Köhler Osmari é Zootecnista formada pela UFSM-RS, com Mestrado em Forragicultura pela UEM – PR. É analista na Embrapa Pecuária Sul, Bagé/RS, integrante do COBEA/CFMV e da Comissão de Pecuária Orgânica CRMV-RS. Contato: elisa.osmari@embrapa.br

Referências bibliográficas:

ANBARASU, C.; DUTTA, N., SHARMA, K., &amp; RAWAT, M. Response of goats to partial replacement of dietary protein by a leaf meal mixture containing Leucaena leucocephala, Morus alba and Tectona grandis. Small Ruminant Research, v.51, n.1, p.47-56, 2004.

BA, N.X.; GIANG, V.D.; NGOAN, L.D. Ensiling of mulberry foliage (Morus alba) andthe nutritive value of mulberry foliage silage for goats in central Vietnam. In: LivestockResearch for Rural Development, v.17, n.2, p.1-9, 2005. Disponível em:&lt;http://www.cipav.org.co/lrrd/lrrd17/2/ba17015.htm&gt;. Acesso em: 3/4/2005.

BARROS E AMORIM. Adição de folha de amoreira (Morus spp.) Como suplemento enriquecedor da multimistura. SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.14, n.2, p.1-7, 2019.

DORIGAN, C.J.; RESENDE, K.T.; BASAGLIA, R. et al. Digestibilidade in vivo dosnutrientes de cultivares de amoreira (Morus alba L.) em caprinos. Ciência Rural, v.34,n.2, p.539-544, 2004.

MOREIRA, F.B.; CECATO, U.; PRADO, I.N. et al. Avaliação de aveia preta cv Iapar61 submetida a níveis crescentes de nitrogênio em área proveniente de cultura de soja.Acta Scientiarum, v.23, n.4, p.815-821, 2001.

OSMARI, Elisa Köhler. Production of Goat’s Milk and Fatty Acids Profile: A NewPerspective in Human Diet. In: Diego E. Garrote; Gustavo J. Arede. (Org.). Goats:Habitat, Breeding and Management. 1ed.Hauppauge: Nova Science Publishers, 2012, v.1, p. 39-70.

OSMARI, E.K.; CECATO, U.; MACEDO, F.A.F.; ROMA, C.F.C.; FAVERI, J.C.; AYER, I.M. Consumo de volumosos, produção e composição físico-química do leite de cabras F1 Boer× Saanen. Revista Brasileira de Zootencia, v. 38, n.12, p. 2473-2481.2009.

SOUZA, A.P. Aspectos anatômicos e farmacognósticos de folhas de amoreira. 2021. 16 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas), Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, Rio Verde, 2021. Disponíve em: &lt;https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/2192/3/TCC_Aleandra.pdf&gt;.Acesso em: 02/02/2023.

THENG, K.; PRESTON, T.; LY, J. Studies on utilization of trees and shrubs as the sole feedstuff by growing goats; foliage preferences and nutrient utilization. July 2003. Livestock Research for Rural Development 15(7):17-37. v.15, n.7, p.17-37, 2003.

WANG, J.; et al. Isolation of flavonoids from mulberry (Morus alba L.) leaves with macroporous resins. African Journal of Biotechnology, v. 7, n. 13, p. 2147-2155, 2008.

ZENI, A. L. B.; DALL’MOLIN, M. Hypotriglyceridemic effect of Morus alba L., Moraceae, leaves in hyperlipidemic rats. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 20, n.1, p. 130-133, 2010.

CURSOS 2023

ASDFASDFASDFSDFSDF

ASDFSDFASDFASDFASDF

CURSO PECUÁRIA ORGÂNICA: RUMINANTES E PASTAGENS

O Instituto do Bem-Estar (IBEM)  em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul através da Faculdade de Veterinária, dentro do PROGRAMA FAVET Sustentável  promove o Curso Pecuária Orgânica: ruminantes e pastagens, na modalidade EAD (virtual) que ocorrerá a partir do mês de junho, através da plataforma Hotmart.

Objetivo do curso

O curso visa qualificar pessoas de diferentes origens da nossa sociedade para manejar ruminantes e pastagens dentro das normas brasileiras dos sistemas de produção orgânica que foram alteradas recentemente pela Portaria n.º 52 de 15 de março de 2021.

Público alvo

O curso é aberto à comunidade em geral e visa repartir conhecimentos para qualificar produtores, estudantes, técnicos, consumidores, comerciantes e público em geral. Para seguir o curso é aconselhável ter cursado ou estar cursando graduação ou curso técnico na área de veterinária, zootecnia, agronomia, biologia, ecologia ou permacultura ou ao menos ter familiaridade com animais ou com o setor agropecuário.

Benefícios de quem fizer o curso

– Saberá o que proibido, o que é obrigatório e o que é recomendado fazer para  criar animais no sistema orgânico, de acordo com legislação brasileira.

– Conhecerá as possibilidades de manejo de pastagens e de animais de acordo com os diversos biomas e realidades.

– Terá uma noção do mercado de orgânicos, para aproveitar a demanda local e mundial de alimentos orgânicos de origem animal.

Estrutura do curso

O curso compreende:

  • Aulas gravadas com acesso por 6 meses após a matrícula.
  • Acesso ao Grupo Exclusivo de alunos via WhatsApp.
  • Material de apoio: textos e vídeos indicados.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Modulo I – Boas vindas e informações sobre o Curso

Módulo II – Contextualização e bases

  •  1: Produção animal com qualidade de vida para todos
  •  2: Sistemas da produção de alimentos
  •  3: Bases, princípios e requisitos gerais do sistema orgânico

Módulo III – Legislação brasileira de produção orgânica: o que é obrigatório,  o que é recomendado, o que é proibido

  •  1: Início, documentos, conversão,  aquisição de animais
  • 2: Nutrição animal
  • 3: Ambiente da criação, bem-estar, manejo e reprodução
  • 4: Sanidade e terapêuticas

Módulo IV: Gerenciamento e Manejo holístico de pastagens

  • 1: Princípios do Gerenciamento Holístico
  • 2: Processos do ecossistema
  • 3: Planejamento holístico do manejo do pastejo
  • 4: Planejamento da propriedade

Módulo V: Pastoreio Racional Voisin – PRV

  • 1: Apresentação e fundamentos do PRV
  • 2: Formação e manejo de pastos
  • 3: Manejo dos animais em PRV
  • 4: Desenho de um projeto PRV

Módulo VI : Sistema Silvo Pastoril

  • 1: Apresentação
  • 2: Introdução e contexto ambiental
  • 3: Definição, objetivos e tipos
  • 4: Interações entre árvore e animal e árvore-pastagem
  • 5: Interações entre árvore-solo animal-pastagem
  • 6: Cercas vivas, bancos forregeiros e árvores em faixas nas pastagens
  • 7: Tipos de SSP

Módulo VII – Alimentos e mercado

  • 1: Alimentos, qualidade e certificação
  • 2 : Mercado e consumo consciente
  • 3 : Sistemas alimentares do futuro
  • 4: Produção e Comercialização Animal Orgânica – Case Korin

 

DOCENTES/FACILITADORES       

Alberto Miguel – Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ – USP com Mestrado em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo (IZ – APTA – SP) e Pós-Graduação “latu sensu” em Perícias de Engenharia e Avaliações pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado – SP.  É praticante de Gerenciamento Holístico e consultor em manejo de pastagens.

André Macke Franck – Médico Veterinário formado pela URCAMP- Bagé-RS, Extensionista Rural da EMATER-RS/ASCAR em Vale do Sol-RS, com Pós-Graduação em Agroecologia e Produção Orgânica- UERGS-RS. Coordenador do Grupo Técnico de Bovinocultura de Leite do Escritório Regional da EMATER-RS de Soledade-RS. Integrante da Comissão de Pecuária Orgânica do CRMV-RS. Integrante dos comitês de saúde & bem-estar e gestão & sistemas produtivos da FIL/IDF- Brasil (Fédération Internazionale du Lait-International Dairy Federation).

Luiz Carlos Demattê Filho – Médico Veterinário pela UNESP – Botucatu. CEO da Korin Agricultura e Meio Ambiente LTDA. Pós-doutorando na EAESP/FGV no Departamento de Gestão de Operações e Sustentabilidade. Mestrado em Zootecnia em Nutrição Animal pela UNESP – Botucatu. Presidente da Câmara Temática da Agricultura Orgânica – CTAO. Membro do Conselho Estratégico do Programa Nacional de Insumos Biológicos – CEPNBio

Angela Escosteguy – Médica Veterinária pela UFRGS e Mestrado pelo Instituto Nacional Agronômico de Paris em Ciências Alimentares.  Atuou no  MAPA como coordenadora da CPORG-RS e do GT Nacional de Produção Animal Orgânica. É membro da IAHA – Aliança para Pecuária da IFOAM – Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica e foi Coordenadora da IFOAM/AL. Sócia fundadora e atual Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM), e atual Coordenadora da Comissão Pecuária Orgânica do CRMV-RS.

Marcia Monks Jantzen – Médica Veterinária pela UFPEL, Doutora em Ciência e Tecnologia Agroindustrial pela UFPEL e INIA-Espanha. Atualmente é Professor Associado na Faculdade de Veterinária e docente permanente do Programa de Pós-Gradução em Alimentos de Origem Animal (Mestrado Profissional), da UFRGS. Membro da CPORG-RS/ MAPA e da Comissão de Pecuária Orgânica no CRMV-RS.

Maria Helena Abreu – Médica veterinária pela UFV/Brasil com mestrado em Ciências Agrícolas na Georg-August-Universitaet em Goettingen/ Alemanha com o tema de pesquisa sobre Integração da agricultura com a bovinocultura de leite e Doutorado em “Agroforestería Tropical” (com o tema Sistemas Silvopastoris) no Centro Agronómico de Investigación y Enseñanza (CATIE)/ Costa Rica. Atual Professora Principal e especialista em Sistemas Silvopastoris Departamento de Produção Animal – Universidad Nacional Agraria La Molina, Lima, Perú.

INSCRIÇÕES

INVESTIMENTO (R$):

BOLSA-COLABORAÇÃO ( 10 bolsas)

Seguindo sua tradição, o IBEM oferece bolsas de 50% de desconto no valor da inscrição para estudantes de cursos técnicos ou superior que queiram retribuir auxiliando os organizadores do Curso e tenham a recomendação de algum professor do seu curso. As atividades solicitadas serão de ordem administrativa relacionadas ao curso, como alimentação da biblioteca on-line, envio de mensagens, preenchimento dos certificados, dentre outras.

Para solicitar a bolsa o estudante deve enviar para o e-mail: ibembrasil.org@gmail.com os seguintes documentos:

  1. Carta de intenções relatando porque deseja realizar o curso e onde pretende aplicar os conhecimentos adquiridos;
  2. Carta de recomendação de um professor ou orientador.
  3. Certificado de matrícula;

Será dada preferência aos que tenham possibilidade de usar e compartilhar seus conhecimentos em alguma comunidade, grupo ou associação.

GARANTIA DE 7 DIAS – seu dinheiro de volta

De acordo com a plataforma Hotmart, você pode assistir todas as aulas e ter acesso ao bônus exclusivo e se por algum motivo você não ficar satisfeito com o treinamento, basta entrar em contato com o suporte e solicitar 100% o reembolso do valor enviado.

QUERO ME INSCREVER:

CLIQUE AQUI:

https://pay.hotmart.com/J54545743K?bid=1685891582028