Por Antonio Vicente da Silva Dias1 e Farouk Zacharias2
Notas históricas
A medicina humana e a medicina veterinária evoluíram a partir dos conceitos de Hipócrates (460 – 373 a. C.) e de Aristóteles (384 – 322 a. C.), segundo os quais:
- O paciente é uma unidade vital, que a doença afeta como um todo.
- Assim, a doença deve ser encarada como uma unidade clínica, em que é necessário observar não apenas os sintomas localizados, mas o que está acontecendo com o indivíduo na sua totalidade.
- Consequentemente, o tratamento constitui uma unidade terapêutica que visa restaurar o equilíbrio total do doente, mas de forma a complementar e estimular as forças criativas da própria natureza.
Porém, após Hipócrates, enquanto Aristóteles começou a vislumbrar as leis da analogia, além de entender que tudo tende à perfeição, Galeno, por dar muita importância aos sintomas locais, procurou observar, nos cadáveres, a ação terapêutica das drogas que haviam sido administradas, antes da morte, e observou que algumas das lesões e reações desapareciam, usando as substâncias que as neutralizavam. Por isto, enveredou simplesmente pela lei dos contrários, dando origem à alopatia. No entanto, os grandes avanços da medicina só começaram a acontecer a partir do século XVIII, baseados, essencialmente, na filosofia dos opostos. Apesar disso, paralelamente, alguns pensadores da área médica defendiam a Lei dos Semelhantes de Hipócrates. Entre eles, destacou-se Samuel Hahnemann (1755 – 1843) que retomou, decididamente, os conceitos de Hipócrates sobre a unidade do ser humano e a necessidade de encará-lo sempre na sua totalidade. Entretanto, o imediatismo, o atraso na aplicação dos conhecimentos da física às ciências biológicas e médicas e a força política e econômica têm impedido, desde então, que a homeopatia desenvolva as suas bases científicas.
A medicina veterinária foi se desenvolvendo a par da medicina humana, usando os mesmos princípios e, portanto, com ênfase na abordagem alopática, porém a utilização da homeopatia nos animais também foi iniciada simultaneamente ao seu uso nos seres humanos; já entre os primeiros discípulos de Hahnemann, encontramos um veterinário, Guilherme Lux (1777-1849). De fato, este, apesar da dificuldade em ser aceito numa Sociedade Médica (tais instituições eram muito fechadas), fez um curso de Filosofia, o que lhe franqueou a entrada para o grupo de trabalho de Hahnemann, tendo iniciado o tratamento de animais usando a homeopatia.
A Homeopatia Veterinária no Brasil
No Brasil, os estudos sobre o uso da homeopatia nos animais foram iniciados na década de sessenta do século passado pelo Dr. Cláudio Martins Real, Professor Emérito da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que, após a aposentadoria, se transferiu para o estado do Mato Grosso do Sul, onde trabalhou na Universidade Federal deste Estado. Aí, vem desenvolvendo a homeopatia populacional. Mas não só os resultados conseguidos por ele têm sido muito promissores, também em outros estados da federação, por veterinários pioneiros, ligados ou não a instituições oficiais. Entre estas, podem ser citadas a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro – PESAGRO, a Universidade de São Paulo – USP, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, a Universidade de Maringá (PR), Universidade Federal de Viçosa Universidade Federal de Viçosa e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, extinta em dezembro de 2014 pelo Governo do Estado da Bahia, dentre outras. Também merece destaque o trabalho desenvolvido pela Médica Veterinária Maria do Carmo Arenales.
Resultados de Pesquisas e Eficácia dos tratamentos
Um dos grandes fatores para o reconhecimento da homeopatia como ciência tem sido os trabalhos de pesquisa realizados com todo o rigor cientifico, e com seus resultados publicados em periódicos científicos, nacionais e internacionais. Esses resultados vêm indicando uma ação imunomoduladora, antioxidante, homeostática, e melhoria do metabolismo, resultando na cura, e prevenção das enfermidades, pelo estimulo da energia vital dos animais. Essa ação tem se confirmado em animais de produção e também na área Pet. Os cursos de formação de especialista em homeopatia é uma garantia para o avanço da medicina veterinária homeopática, formando quadros de especialistas, sintonizados com os últimos resultados de pesquisa na área e oferecendo uma assistência técnica de qualidade.
A condição para que as doenças sejam curadas, através da homeopatia, é que o indivíduo tenha possibilidade de reagir, através da sua força vital, ao estímulo que o medicamento homeopático induz e isso só é possível quando o manejo dos animais é adequado, tanto do ponto de vista de conforto como de alimentação.
Mas a homeopatia não tem apenas efeitos curativos; ela é um excelente meio preventivo que possibilita melhor desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, sendo que os medicamentos utilizados são produzidos, exclusivamente, a partir da natureza, de componentes dos reinos mineral, vegetal e animal.
Além de tudo isso, o custo é muito menor (de acordo com a experiência de campo da EBDA, cerca de 9 vezes menos, podendo até chegar a 13, nos casos em que os produtores fazem maior número de aplicações de medicamentos e defensivos).
Na prevenção
A homeopatia é um excelente meio de prevenção: os trabalhos desenvolvidos têm mostrado a sua eficácia no controle de ectoparasitas (carrapatos, bernes, moscas-dos-chifres, piolhos) e endoparasitas (verminoses, eimerioses, babesioses), mantendo os animais em níveis de resiliência uma vez que, apesar da presença do parasita há equilíbrio deste com o hospedeiro. Com o tempo, a população dos parasitas desaparece ou atinge níveis que não causam danos econômicos. No caso dos carrapatos, a sua presença em pequeno número é uma vantagem, pois ocorre a formação de uma barreira imunitária natural contra a tristeza parasitária bovina. Os resultados também são muito interessantes, no que diz respeito à prevenção de mamites e da linfadenite caseosa dos caprinos e ovinos.
Na cura
O mito de que os medicamentos homeopáticos são lentos, no seu efeito, é apenas um preconceito que tem sido desfeito na prática e, por esse motivo, a procura tem sido grande, tanto por parte de profissionais da área como por parte dos proprietários dos animais. Determinadas posições acontecem mais por falta de informação e porque os casos levados ao homeopata são, muito freqüentemente, aqueles que requerem tempo na resposta, pois, geralmente, só se busca a homeopatia quando não se consegue solução por outro meio. Em relação aos casos agudos, a resposta é rápida. Normalmente, o uso de medicamentos homeopáticos tem efeito tão ou mais rápido que os alopáticos, com a vantagem de não causarem efeitos colaterais.
A aplicação dos medicamentos homeopáticos deve ser feita tanto em casos crônicos como agudos. A gama de enfermidades que tem sido tratada, com ótimos resultados, pela homeopatia, é extremamente ampla, indo desde parasitoses, infecções e traumatismos, à falta de contração no parto, prevenção da eclampsia e auxiliar na consolidação das fraturas, passando por distúrbios do comportamento. Assim, os resultados do tratamento homeopático vão desde as mastites (inflamações na mama em que há envolvimento de vários grupos de bactérias, algas, fungos, leveduras e micoplasmas), em gado leiteiro, ao controle de parasitas, em geral. A técnica permite a manipulação de substâncias que são eficientes nesses casos, sem o risco de contaminar o animal. O processo beneficia, também, os consumidores que vão obter carne ou leite sem a presença de produtos químicos contaminantes, além dos criadores que também não correm o risco de contaminação.
No caso dos animais leiteiros, por exemplo, com o uso de medicamentos homeopáticos e uma ordenha adequadamente higiênica, a incidência da mastite no rebanho torna-se insignificante. No tratamento convencional, administram-se, no gado, diversos antibióticos, que podem causar perda do leite ou deixar resíduos no alimento capazes de originar intoxicação, além de criar estirpes de bactérias resistentes, o que não acontece com a homeopatia.
Outras aplicações
Além do tratamento e prevenção de enfermidades, é possível utilizar a homeopatia em todo o rebanho com outras finalidades, como facilitar o parto e incrementar a eficiência reprodutiva em gado de cria, por exemplo. Neste aspecto, um dos usos mais interessantes é o da mistura dos medicamentos homeopáticos ao sal mineral ou à ração que melhora o crescimento e o ganho de peso, em rebanhos de corte, beneficiando diretamente o produtor que terá como comercializar a carne mais rapidamente, e o consumidor, por ter uma carne de melhor qualidade. Isto ocorre porque os medicamentos homeopáticos, adicionados ao sal mineral, previnem os estados infecciosos e tranqüilizam os animais.
Nos trabalhos realizados pela extinta EBDA, além da prevenção, foram tratados, com sucesso, várias afeções, entre as quais abscessos, mamites, traumatismos diversos, prolapso uterino, caquexia, sarna, diarreia dos bezerros (com quadro pulmonar – “pneumoenterite”), fotossensibilização, tristeza parasitária e linfadenite caseosa.
Há, na literatura, vários trabalhos interessantes, inclusive internacionais, referentes a tratamento de rebanhos e plantéis de aves, do ponto de vista da prevenção, inclusive das zoonoses, o que implica questões de saúde pública. Entre os países que implantaram o uso da homeopatia, no controle de mastites, com sucesso, é importante citar a Alemanha.
Na fase de crescimento, há ótimos resultados, pois os medicamentos da homeopatia, ao equilibrarem o metabolismo, melhoram a absorção do cálcio, do fósforo e dos outros nutrientes, especialmente os tioaminoácidos, em todas as espécies animais.
Os resultados obtidos permitem afirmar que a homeopatia está desempenhando e tem a desempenhar um papel importantíssimo na saúde animal.
A medicina veterinária homeopática é, portanto, uma realidade que tende a afirmar-se pelos seus resultados, cada dia mais expressivos, inclusive na prevenção e tratamento das doenças dos animais.
LITERATURA CONSULTADA
CARVALHO, A. C. Homeopatia em veterinária. São Paulo, SP: 1998. 2p. (Mimeogr.)
EIZAYAGA, F. X. Tratado de medicina homeopática. 21.ed. Buenos Aires: Marecel, 1981. 381p.
HAHNEMANN, S. Organon der heilkunst. Organon da arte de curar. Trad. de Edméa Marturano Villela e Izao Carneiro Soares. 6.ed. Ribeirão Preto, SP: Museu de Homeopatia Abrahão Brickmam, 1995. 373p.
TIEFENTHALER, A. Homeopatia para animais domésticos e de produção. Trad. Rosilea Pizarro Carnelos. São Paulo, SP: Andrei, 1996. 336 p.
VITHOULKAS, G. Homeopatia: ciência e cura. 1980. Trad. Sônia Régis. 10.ed. São Paulo, SP: Cultrix, 1997. 436p.