DOES ORGANIC FOODS MAKE A DIFFERENCE FOR THE CONSUMER?

Por Angela Escosteguy*

 

O consumo de alimentos orgânicos cresce no Brasil e em todo o mundo. Seus defensores afirmam que eles combinam qualidade e sustentabilidade e que estão cada vez mais valorizados porque são produzidos num sistema de produção que é amigável com o planeta, preserva a biodiversidade, respeita o bem-estar dos animais e atende as expectativas dos consumidores que buscam alimentos saudáveis e saborosos.

A produção dos chamados alimentos orgânicos iniciou na Europa nos anos 70 com o objetivo de produzir alimentos livres de resíduos de agrotóxicos usados no modelo convencional industrial de produção. A preocupação é procedente e válida até hoje, pois de lá para cá, se por um lado a chamada agricultura orgânica evoluiu, o sistema convencional, baseado no uso de agrotóxicos, sementes transgênicas e outros químicos sintetizados, por seu lado, cresceu muito também. As consequências são evidentes e graves. A presença de resíduos de agrotóxicos e outras produtos tais como hormônios, antibióticos, parasiticidas e etc. são uma realidade e vem causando muitos problemas para os consumidores.

 

PREOCUPAÇÃO COM OS RESÍDUOS TÓXICOS NOS ALIMENTOS

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), “ já em 2009, alcançamos a indesejável posição de maior consumidor mundial de agrotóxicos, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante”. Infelizmente, este número segue aumentando, pois conforme o Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)”de 2015,  “o  país consome, em média, 7,2 litros por pessoa de veneno a cada ano, o que resulta em mais de 70 mil intoxicações agudas e crônicas em pessoas”. Além disso, Relatório da ANVISA, sobre a análise de 12.051 amostras de 25 alimentos representativos da dieta brasileira, monitoradas entre 2013 e 2015, revela que 58% das amostras estão contaminadas por agrotóxicos e que, deste total, 19,7% foram consideradas amostras insatisfatórias, seja porque apresentam limites acima do permitido (3%), seja porque apresentam agrotóxicos não autorizados no Brasil (18,3%).

A situação é bastante preocupante pois conforme o INCA “ Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer”.  Tudo depende do produto, da concentração e da sensibilidade individual de cada um.

 

INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA DIETA NOS CONSUMIDORES

Para evitar a ingestão de agrotóxicos e outras drogas indesejadas e potencialmente tóxicas, muitos passaram a consumir os alimentos orgânicos. Entretanto   vários se perguntam se consumir alimentos orgânicos realmente faz diferença no seu corpo.

Para avaliar o efeito da alimentação convencional e a orgânica nas pessoas, Cynthia Curl e colaboradores analisaram 4.500 pessoas de quatro cidades dos Estados Unidos, comparando pessoas que consumiam alimentos orgânicos com as demais. O estudo revelou que indivíduos que consumiam mais alimentos orgânicos tinham menos resíduos de agrotóxicos na urina. “ Diz-me o comes e te direi os níveis de agrotóxicos no teu corpo”, sentenciou Cynthia Curl, a autora do trabalho.

O Instituto de Pesquisas Ambientais da Suécia fez um experimento com uma família de cinco pessoas, sendo três crianças.  Após trocar sua alimentação para dieta orgânica por apenas 2 semanas, os níveis de agrotóxicos nos seus corpos (sangue e urina) caíram significativamente.  Veja o vídeo com detalhes do experimento realizado na Suécia. Opção com legenda em português no próprio vídeo.

 

 

FONTES CITADAS  (Disponíveis na Biblioteca Virtual deste Portal)

CURL C.L. Estimating pesticide exposure from dietary intake and organic food choices: the Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA). Environ Health Perspect. 2015 May;123(5):475-83. doi: 10.1289/ehp.1408197. Epub 2015 Feb 5.

Dossiê ABRASCO: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde, 2015.

Posicionamento do instituto nacional de câncer josé alencar gomes da silva acerca dos agrotóxicos. Www.inca.gov.br. Acessado em 16/08/2018.

http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/posicionamento_do_inca_sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15.pdf

Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) – Relatório das Analises de Amostras Monitoradas no Período de 2013 a 2015, 2016.

 

* Angela Escosteguy é médica-veterinária e Presidente do IBEM. E-mail: ibembrasil.org@gmail.com

CARNE FRACA E A INOCUIDADE ALIMENTAR

Por Carlos Nabinger*

Inocuidade é a capacidade de um alimento não causar mal àquele que o consome, que não é nocivo. E uma característica que o consumidor tem colocado à frente de outras exigências, pois é a saúde que está em jogo. Essa inocuidade depende de fatores intrínsecos ao produto (associados geralmente ao modo como o alimento foi produzido) e extrínsecos (dependentes de outros fatores, como processamento e embalagem, transporte, forma de conservação e tempo de prateleira). 

Especificamente no caso da carne “in natura” uma forma de garantir a inocuidade é dar preferência a marcas, programas ou selos que garantam uma forma de produção, abate e processamento compatíveis com a segurança desejada. Esse é o caso de programas de carne de qualidade associados a raças ou de certificações como a Indicação de Procedência da Associação dos Produtores do Pampa da Campanha Meridional – Apropampa, ou de arranjos produtivos como da Associação de Produtores dos Campos de Cima da Serra – Aproccima, e mais recentemente, a iniciativa internacional Alianza del Pastizal. Essa última reúne produtores do Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e Paraguai e alicerça seu sistema de produção de gado de corte nos campos nativos (pastizales). Do mesma maneira que a Apropampa e Aproccima, valorizam a carne produzida com base nesse recurso natural formidável que são os campos naturais da região. Esses apresentam uma diversidade vegetal tal que propicia ao animal uma dieta totalmente diferenciada, variada e capaz de proporcionar uma carne absolutamente saudável, com tem demonstrado vários experimentos locais que avaliam a qualidade (perfil de ácidos graxos, sabor e odor, por exemplo). Dessa forma, estaria cumprido o primeiro requisito da inocuidade que são os fatores intrínsecos. O segundo requisito – fatores extrínsecos – depende dos frigoríficos e da rede do varejo. Ambos submetidos a controles que, apesar do rigor e dos custos associados finalmente são desejados pelos mesmos, pois representam, por um lado a garantia de que o produto mantém aquelas qualidades geradas no campo e, por outro lado, é condição para manter a necessária confiança do consumidor na questão sanitária. Por isso, podemos ter certeza de que apesar dos estragos produzidos pela forma de veiculação da “operação carne fraca”, o consumidor pode ficar tranquilo quanto ao seu consumo, pois o tipo de fraude levantado, embora existente, não é da monta que alguns pretenderam dar. Nossa carne é absolutamente inócua e a cadeia produtiva não merece pagar por isso.  

*Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS.

Texto publicado originalmente em: ZERO HORA, Caderno Campo e Lavoura, coluna Palavra do Especialista – Produção Sustentável. 01 e 0TEXTO 2/04/2017, no 1718, p.3.