A vez dos alimentos orgânicos

Por Angela Escosteguy*

A pandemia foi um sonoro tapa na cara da humanidade. Nos mostrou o quanto precisamos de um sistema imunológico forte e de um ambiente saudável, apesar dos nossos avanços tecnológicos.

A preocupação em fortalecer as defesas naturais com dieta saudável provocou um aumento no consumo dos alimentos orgânicos em diversos países. Estudos na Europa relatam que mesmo com a crise, em 2020 houve aumento de cerca de 40% no consumo. Alguns chegam a firmar que o aumento só não foi maior porque não havia oferta.

Além disso, o Relatório da FAO sobre a Covid-19, publicado no ano passado foi muito claro ao afirmar que dentre as causas da pandemia estão a destruição dos ecossistemas e os confinamentos dos animais e que, se isto não for modificado, novos surtos virão. Neste contexto, os sistemas orgânicos e de base agroecológica assumem uma importância crescente. Há mais de 70 anos eles vêm se desenvolvendo com base nos princípios que incluem cuidados com os ecossistemas, com as pessoas e com o bem-estar dos animais. Estudos, como o do Rodale Institute dos EUA comprovam que estes sistemas são mais resilientes, sequestram mais carbono, precisam de menos energia, proporcionam melhor bem-estar aos animais e produzem alimentos de elevado teor nutricional e com menos possibilidades de terem resíduos tóxicos.

Estas informações vêm propiciando o aumento do consumo dos orgânicos pois além de livres de agrotóxicos, antibióticos, hormônios e outros contaminantes no seu sistema de produção, eles também têm mostrado serem mais nutritivos que os convencionais, na maioria dos estudos comparativos, embora haja variação conforme o solo e período do ano. Segundo a Universidade de Medicina Natural dos EUA, alimentos orgânicos fornecem níveis significativamente maiores de vitamina C, ferro, magnésio e fósforo do que as variedades não orgânicas dos mesmos alimentos. Citam também benefícios claros para a saúde do consumo de produtos lácteos orgânicos em relação à dermatite alérgica. Pesquisa do British Journal of Nutrition concluiu que leite e carne orgânicos são mais nutritivos que os convencionais pois contém 50% mais ômega 3. Estes resultados também foram encontrados na manteiga, iogurte, nata e queijos. O ômega 3 é um ácido graxo essencial fundamental para o crescimento, com importante função na prevenção e tratamento de doenças cardíacas, hipertensão, artrite, câncer, inflamações e desordens autoimunes. Numerosos estudos científicos, incluindo os do FIBL- Instituto de Pesquisas em Orgânicos, da Suíça, e da Universidade da Califórnia, comprovaram que carnes de animais alimentados em pastagens, como os orgânicos, têm mais ômega 3, além de maiores níveis de vitaminas A, E , CLA e menos gordura saturada e trans que carnes não orgânicas.

Conforme dados publicados este ano pelo FIBL com base em dados coletados em 2019, o mercado de orgânicos movimentou 106 bilhões de euros, está presente em 187 países e conta com mais de 3 milhões de produtores devidamente cadastrados. Aqui no Brasil, segundo uma pesquisa da realizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), através da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) a produção orgânica brasileira registrou um saldo bastante positivo em 2020 com um aumento de 30 a 50% conforme o produto, além de triplicar a produção devido à grande demanda. A gama de produtos é variada, não somente os tradicionais hortifrutigranjeiros, mas também ovos, mel, carne bovina e de frango, leite e derivados. Além da preocupação com alimentação saudável também observa-se aumento da preocupação com o ambiente e com os animais, o que vem impulsionando o desenvolvimento da pecuária orgânica, cujos princípios básicos são bem-estar dos animais e preservação dos ecossistemas nas criações de animais em pastagens.
A concepção de qualidade dos alimentos está evoluindo. Durante muito tempo eram considerados apenas os parâmetros do próprio alimento, tais como sanidade, sabor e valor nutricional. Mas agora estão sendo valorizados e demandados também aspectos que avaliam não somente o alimento em si mas também o sistema produtivo utilizado. Consumidores além de buscar alimentos de mais qualidade, se sentem felizes em apoiar os produtores rurais que são cuidadosos com os animais e com o ambiente, e passam a buscar nos rótulos dos alimentos estas informações. É o chamado consumo ético.

*Angela Escosteguy, médica-veterinária, diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM).
Artigo publicado no jornal Sul 21, em 09/10/2021.

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