SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E O PAMPA

Por Carlos Nabinguer*

Boa parte da pesquisa em ecossistemas pastoris como o Pampa está hoje direcionada às formas de sua utilização que permitam aumentar o fornecimento de carne, leite, lã, mel, plantas ornamentais e medicinais

Projetos de desenvolvimento no meio rural, em geral, são centrados no aumento da produtividade física de determinado produto (carne, grãos, madeira, minérios). Raramente constituem verdadeiras políticas no sentido de promover antes de tudo o bem-estar das populações rurais, onde a qualidade do ambiente deveria ser o pilar básico. Essas políticas, unicamente produtivistas, ainda competem com a existência dos recursos naturais, notadamente as pastagens nativas no caso do Rio Grande do Sul. Essas são consideradas como um espaço arcaico, pois supõem a continuação da paisagem colonial onde não seria possível a expansão dos modelos civilizatórios “modernos”.

A crença generalizada do escasso valor dos campos nativos e os benefícios dos modernos modelos de progresso determinaram a conveniência do sacrifício dos campos em favor de maior movimentação financeira. Essa forma de pensar deriva do desconhecimento do verdadeiro potencial produtivo desses campos e da ignorância sobre a razão da existência de uma vegetação definida em determinado habitat. Essas vegetações aí estão por estarem adaptadas àquele ambiente (físico, químico e biológico), mas também para prestarem serviços que geralmente não valoramos financeiramente. Estes serviços podem ser classificados como de provisão (fibras, água potável, forragem, grãos, madeira, produtos medicinais e outros), de regulação (do clima, hídrica, controle de enfermidades e pragas, polinização), culturais (derivados da experiência concreta de habitar o ecossistema, valores estéticos da existência, educativos, turísticos entre outros) e serviços de suporte (formação do solo, ciclagem de nutrientes).

No entanto, o fornecimento desses benefícios está vinculado à saúde do ecossistema, ou seja, sua integridade e sua estabilidade. Os efeitos do nível de substituição e da má utilização dos remanescentes têm um caráter cumulativo que, ao chegar em certo ponto, expressam modificações bruscas e geralmente irreversíveis em todos os serviços. Por isso, boa parte da pesquisa em ecossistemas pastoris como o Pampa está hoje direcionada às formas de sua utilização que permitam aumentar os serviços de provisão (carne, leite, lã, mel, plantas ornamentais e medicinais), mas de forma sustentável (leia mais em zhora.co/camponativo). Outra preocupação da pesquisa está direcionada para a recuperação, ao menos de parte, do que foi destruído, para retomar os serviços ecossistêmicos acima descritos.

Por tudo isso, é preciso mais entendimento por parte dos tomadores de decisão da importância do que se está falando, para que, finalmente, tenhamos algum dia uma verdadeira política voltada à conservação do Pampa e tudo o que a ele está associado, como a nossa própria cultura.

*Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Contato: nabinger@ufrgs.br

Texto publicado originalmente em Gaúcha ZERO HORA,  Caderno Campo e Lavoura em 06/01/2018.

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