RESÍDUO DA MANDIOCA PARA CONTROLE DE CARRAPATOS
Por Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite*
A mandioca é uma planta dicotiledônea, pertencente à família Euphorbiaceae e ao gênero Manihot, tendo sua origem nas Américas. Este gênero Manihot apresenta uma grande variedade de espécies, contudo a única utilizada para alimentação é a Manihot esculenta Crantz, que pode ser da variedade brava ou mansa, em função do teor de glicosídeos cianogênicos, que liberam o ácido cianídrico (HCN).
Durante o processo de fabricação da farinha, sai um liquido amarelo resultante da prensagem das raízes da mandioca, que se chama manipueira. Este liquido é rico em compostos orgânicos e minerais, podendo ser utilizado em atividades agrícolas como inseticida, bactericida, fungicida, nematicida, adubo foliar, no controle de ervas daninhas, ou em atividades agropecuárias, como alimentação animal e no combate a ectoparasitas, em especial a carrapatos.
Este liquido é considerado um resíduo e pode ser facilmente encontrado em regiões que processam a mandioca, praticamente a custo zero. Ele vem sendo desprezado e se tornado um problema ambiental, quando lançado indiscriminadamente, contaminando solos e lençóis freáticos, devido ao alto teor do glicosídeo cianogênico linamarina, que eleva o efeito tóxico deste resíduo. São esses glicosídeos que ajudam a combater e/ou controlar a incidência de carrapatos nos animais de produção, principalmente bovinos, caprinos e ovinos.
Relatamos a seguir nossa experiência com o uso da manipueira para controle de carrapato em bovinos, que é uma opção muito barata e também viável para os sistemas orgânicos de produção, onde os carrapaticidas sintéticos não podem ser usados. Sabemos também que para o efetivo controle do carrapato em regiões muito infestadas, são necessárias um conjunto de ações, tais como a busca de raças mais rústicas e adaptadas as condições climáticas da região e ações no ambiente para diminuir a infestação das pastagens.
USO DA MANIPUEIRA
A manipueira vem sendo usada como carrapaticida em oito bovinos sem padrão racial definido, no Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA, organização que oferece o curso Técnico em Agroecologia, estado de Pernambuco. Por ser um produto liquido, utilizamos a manipueira pulverizando os animais. O resíduo pode ser usado uma vez ao dia, repetindo a aplicação duas vezes por semana em casos de maior infestação. Para animais com baixa incidência e/ou sem carrapatos, utilizamos uma vez por semana, com intervalos de 15 a 21 dias, respectivamente.
A frequência de uso será de acordo com o grau de infestação de carrapatos. O resultado das aplicações acontecem a médio prazo, com quatro a cinco pulverizações. Entretanto, esses resultados dependem do teor de HCN da manipueira, podendo aumentar ou diminuir o número de vezes em que o liquido será administrado. Pode ser utilizado também em caprinos e ovinos.
Vale lembrar que, o seu uso deve ser imediatamente após a sua formação (alto teor de HCN), que se dá mediante a moagem da mandioca. A manipueira não deve ser usada com diluentes, para evitar redução do teor de HCN e, consequentemente, do potencial carrapaticida.
O uso da manipueira no combate à carrapatos não tem contraindicações para animais debilitados ou jovens, podendo ser aplicado em qualquer horário do dia, desde que sem chuva. É uma forma sustentável e natural de reaproveitamento de resíduos, agregando valor econômico a um subproduto muitas vezes desprezado no ramo agropecuário, reduzindo custos com a produção animal no quesito medicamento, além de dirimir problemas ambientais.
*Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite é Zootecnista pela UFRPE, mestre em nutrição e produção animal pela mesma instituição. Professor do curso Técnico em Agroecologia do Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA, em Glória do Goitá – PE. Contato: pmbaleite@gmail.com.
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