O CONSUMO DE OVOS GALADOS E A PRESENÇA DO GALO EM SISTEMAS AGROECOLÓGICOS DE CRIAÇÃO DE GALINHAS

Por Eduardo Antunes Dias*

Foto acima: Fig 1: Disco embrionário (blastodisco) com um halo em formato de anel em ovo do dia da postura (DIAS, E. A., 2019).

 

INTRODUÇÃO

É sabido que a presença do galo é benéfica na criação de galinhas, pois além de promover proteção para o seu grupo, a sua introdução melhora a produção de ovos, reduz o índice de mortalidade e amplia o repertório de comportamentos naturais (PEREIRA, 2016). Por outro lado, essa prática levará à produção de ovos galados (ovos fecundados), mas isso não é necessariamente um problema. A legislação (DECRETO 9.013 – RIISPOA de 29/03/2017) permite a comercialização de ovos galados como sendo de categoria A quando este apresentar a cicatrícula (ou blastodisco) com desenvolvimento imperceptível (Art. 225 – V), proibindo somente a venda de ovos oriundos de estabelecimentos avícolas de reprodução (Art. 226 – III). Os macrobióticos inclusive indicam o seu consumo em função da energia vital contida neste tipo de alimento.

 

ASPECTOS FISIOLÓGICOS

O óvulo das aves é classificado como telolécito, pois possui uma grande quantidade de vitelo para alimentar o embrião durante o seu desenvolvimento, ocupando praticamente toda a célula. Já a formação deste embrião é dividida em quatro fases: 1) clivagem ou segmentação; 2) gastrulação; 3) neurulação e 4) organogênise. Nas aves, diferentemente dos mamíferos, a primeira etapa do desenvolvimento embrionário – a clivagem, é parcial (meroblástica) e discoidal, formando um blastoderma de camada dupla em formato de anel (TULLET, 2010). Nesta fase inicial acontece apenas uma multiplicação celular sem a formação de tecidos ou órgãos. A formação da linha primitiva no eixo longitudinal do embrião, onde se desenvolverão a cabeça e a espinha dorsal da ave, só ocorrerá a partir de no mínimo de 20h da postura, na fase de gastrulação (HILL, 2021). Assim sendo, nos primeiros dias após a postura, o ovo galado apresenta na superfície da gema apenas o disco embrionário (blastodisco) com um halo em formato de anel. É importante não confundir o disco embrionário com a chalaza, estrutura proteica esbranquiçada e em espiral cuja função é centralizar a gema dentro do ovo. Na ovoscopia, só será possível visualizar alguma alteração em ovos galados no terceiro dia da postura, quando o sistema circulatório começa a se tornar aparente (KANASE et al., 2015). Outro aspecto importante a ser levado em consideração é a sensibilidade do embrião das aves que necessita de uma temperatura controlada entre 36-37°C para se desenvolver (DIAS e MÜLLER, 1998), além de uma viragem constantemente.

 

Fig. 2: Formação do sistema circulatório em ovo de três dias após a postura (KANASE et al., 2015).

 

CONCLUSÃO

Portanto, se a coleta e a correta armazenagem dos ovos galados acontecer no mesmo dia da postura, o desenvolvimento embrionário ficará estacionado na fase da clivagem e, se este ovo ainda for acondicionado em temperatura de geladeira, a garantia da interrupção do seu crescimento será maior ainda.

 

REFERÊNCIAS:

DIAS, P. F.; MÜLLER, Y. M. R Características do desenvolvimento embrionário de Gallus gallus domesticus, em temperaturas e períodos diferentes de incubação. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 35, n. 5, p. 233-235, 1998.

HILL, M.A. Chicken Development (2021, March 26) Embryology. Disponível em: <https://embryology.med.unsw.edu.au/embryology/index.php/Chicken_Development>. Acesso em: 25 de março de 2021.

KANASE, A; PACHAPURKAR, S.; MANE, A.; JADHAV, J. Implementation of ex-ovo chick embryo development model for evaluation of angiogenesis and vasculogenesis studies. European Journal of Pharmaceutical and Medical Research, 2(5):1680-1689. January 2015.

PEREIRA, D. C. O.Presença de galos em um sistema alternativo de produção de ovos visando o bem-estar animal. Dissertação apresentada para a obtenção do título de Mestra em Ciências. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas. Universidade de São Paulo. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 81 p. Piracicaba/SP, 2016.

RIISPOA – REGULAMENTO DA INSPEÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, DECRETO 9.013 DE 29/03/2017, BRASIL.

Disponível em: Acesso em: 26 de abril de 2021.

TULLETT, S. Ross Tech – Investigação das Práticas de Incubação, Departamento de Transferência Técnica da Aviagen, setembro/2010.

Disponível em: <https://docplayer.com.br/10490406-Incubacao-investigacao-das-praticas-de-incubacao-setembro-2010-ross-tech-como-investigar-as-praticas-de-incubacao.html> Acesso em: 25 de março de 2021.

* Eduardo Antunes Dias é Médico Veterinário pela UFPel, mestre e doutor em Reprodução Animal pela FMVZ/USP. Professor dos cursos de Agroecologia e Licenciatura em Educação do Campo da FURG – Campus São Lourenço do Sul.

Contato: eduardo.dias@furg.br

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