GERENCIAMENTO HOLÍSTICO: QUE BICHO É ESSE?
Por Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel*
Gerenciamento Holístico. Parece algo esotérico, mas não é. O termo holismo vem do grego “holos”, que significa “todo”. Assim, Gerenciamento Holístico é o Gerenciamento de um “todo”.
Este termo foi utilizado pela primeira vez na era moderna pelo general sul africano Jan Christian Smuts, que escreveu o livro “Holism and Evolution” em 1926.
Depois disto, o termo foi “ressuscitado” por Allan Savory, que escreveu os fundamentos de Gerenciamento Holístico junto com milhares de praticantes desta forma de gerenciamento, que tem como uma de suas características o dinamismo de suas propostas, evoluindo a toda hora para solucionar os problemas mais profundos de nosso campo, que é a base de sustentação de uma sociedade estável.
Mas o que é, realmente, Gerenciamento Holístico?
É uma ferramenta para usarmos na nossa tomada de decisão, que vai garantir que sejamos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos hoje e pelo futuro, indefinidamente. Ou seja, que sejamos sustentáveis indefinidamente.
Todos nós somos forçados a tomar decisões várias vezes ao dia, milhares de vezes ao ano, ao longo de nossas vidas. E tomamos estas decisões baseadas em parâmetros como emoção, finanças, educação, pressão de colegas, pressão da sociedade, pressão da família, racionalização, fuga, pesquisa convencional, sexto sentido, preocupações legais, fluxo de caixa, intuição etc.
Ao final deste processo de pensamento acabamos constantemente com duas, três, quatro ou mais ações que ainda podem ser tomadas para a solução da situação, mas não temos algo que possa garantir nossa sustentabilidade nesta tomada de decisão.
Gerenciamento Holístico vem ajudar neste processo, por meio de questões (testes) dentro de sete diretrizes.
Cada uma destas diretrizes vem satisfazer uma determinada parcela de uma situação referente ao “todo” que está sendo manejado. Mas para que estas diretrizes dêem o resultado esperado é necessário que tenhamos um “Norte” para nos guiar. Senão, vejamos:
Se eu chegar para você e falar que estou levando fogo para sua casa, qual será sua reação? Talvez você fale para não levar, por medo de ter sua casa incendiada. Mas se a razão pela qual estou indo para sua casa é para participar de um churrasco, então temos um “norte” e você de bom grado vai aceitar a minha oferta.
O mesmo acontece com nossas decisões diárias. Elas são tomadas normalmente sem um foco em um “norte”, mas sim na tentativa de se resolver um problema especifico. Se tivéssemos este “norte” ficaria muito mais fácil decidir qual ação nos levaria mais rápido a ele, facilitando nossa decisão. A este “norte” damos o nome de Contexto Holístico.
Para se construir um Contexto Holístico em um “todo” qualquer precisaremos de alguns parâmetros, que devem se encaixar em quatro preceitos:
- Declaração de Propósito
- Qualidade de Vida
- Formas de Produção
- Futura Base de Recursos
Com estes preceitos nós normatizamos o nosso Contexto Holístico, contra o qual iremos testar cada ação possível de ser implementada, depois de testá-las com as diretrizes.
E que diretrizes são estas? Aqui vão elas:
- Causa e Efeito
- Elo Fraco (financeiro, biológico, social)
- Reação Marginal
- Análise do Lucro Bruto
- Energia e Dinheiro: Usos e Fontes
- Sustentabilidade
- Sociedade e Cultura
Estas diretrizes vão garantir que para aquele determinado “todo” que está sob nosso gerenciamento, a tomada de decisão será a que melhor vai trazer benefícios econômicos, ambientais e sociais para todas as pessoas e propriedades (urbanas ou rurais, públicas ou privadas) envolvidas.
Toda vez que interferimos na natureza, através de nossas ações, estamos interferindo em um dos processos fundamentais dos ecossistemas, que são: ciclo da água, ciclo de nutrientes, dinâmica de comunidades e fluxo de energia. Se causarmos uma mudança em um deles certamente teremos causado mudanças nos outros. Assim é preciso vigiarmos com muita atenção, através de Pontos Críticos de Controle (PCC’s) se a alteração estará melhorando ou piorando nosso sistema de produção.
Interferimos no ambiente com o uso de ferramentas. Estas ferramentas, quaisquer uma que vier à sua mente, recaem em nove grupos. São eles:
- Criatividade
- Capital e Trabalho
- Fogo
- Pastejo
- Impacto Animal
- Organismos Vivos
- Tecnologia
- Descanso
Cada uma destas ferramentas interferirá diferentemente em cada “todo”, mesmo que sejam usadas na mesma quantidade, intensidade ou momento. Por isso é tão importante que se conheça o todo profundamente, antes que apliquemos qualquer uma delas.
Gerenciamento Holístico tem três grandes planejamentos que devem ser feitos concomitantemente. São eles: Planejamento Holístico Financeiro (PHF), Planejamento Holístico do Manejo do Pastejo (PHMP) e Planejamento Holístico da Propriedade (PHP). Além deles, devemos fazer um Monitoramento Biológico constante de nossas propriedades para que as ações que promovermos nestas áreas estejam produzindo os efeitos desejados no meio ambiente de nosso todo.
Fui convidado pela Dra. Angela Escosteguy para falar sobre Manejo Holístico de Pastagens, que é onde as Ferramentas Pastejo e Impacto Animal são mais frequentemente aplicadas e o uso de animais é imprescindível. Além destas, estaremos constantemente falando das outras, já que são intimamente ligadas.
Estou à disposição para discutir quaisquer situações ou sanar quaisquer dúvidas que minhas postagens possam gerar. Até a próxima!
* Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel é Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ – USP com Mestrado em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo (IZ – APTA – SP) e Pós-Graduação “latu sensu” em Perícias de Engenharia e Avaliações pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado – SP. É praticante de Gerenciamento Holístico e consultor em manejo de pastagens.
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