COMO SALVAR O PAMPA?

Angela Escosteguy*

Recentemente fui a Livramento e fiquei apavorada com a paisagem. Onde está nosso Pampa e sua rica biodiversidade, base da nossa cultura e tradições? Por todos lados só vi imensas plantações de soja ou de árvores para papel, verdadeiros desertos verdes e as vezes algumas plantações de arroz ou pomares  E muito de vez em quando, um gadinho remanescente, como que esquecido e de longe parecendo um  bordadinho colorido e vivo naquela paisagem.

Isto tudo começou após a Segunda Guerra Mundial quando veio a Revolução Verde que modificou completamente os sistemas de produção de alimentos e convenceu a todos que o uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos, monoculturas  e a  intensificação dos processos produtivos iria acabar com a fome no mundo. Alguns anos depois foi a vez dos transgênicos  e a venda de sementes patenteadas, prometendo culturas resistentes à pragas, à seca e supostamente  mais nutritivas. Agora assistimos um narrativa crescente que a pecuária deve ser eliminada porque agride o ambiente e a solução então é passaremos a comer alimentos processados de base vegetal ou culturas de células produzidas em laboratório. A agricultura foi substituída pelo agronegócio.

Aliás isso já vem faz tempo. Primeiro condenaram  a banha de porco e logo todos passamos a usar óleo de soja. Depois foi a vez da manteiga, que deu lugar à margarina. Na sequência o ovo e as acusações sobre colesterol. Agora a ciência comprovou que a banha, a manteiga e ovos são mais saudáveis e muito mais ricos em nutrientes que os alimentos de base vegetal que os substituíram. E a carne, tão acusada,  fornece proteínas de alta qualidade e vários nutrientes, alguns dos quais nem sempre são obtidos com dietas vegetais. Ela contém  vitaminas como B12, B, retinol, ômega e ácidos graxos, vários minerais, (como cálcio, ferro e zinco) e uma variedade de compostos bioativos importantes. (Animal Frontiers, 2023).

FOTOS ACERVO IBEM.

Do ponto de vista ambiental, estudos recentes da FAO e da Universidade de Oxford mostram que  o gado bem manejado, aplicando princípios agroecológicos, pode gerar muitos benefícios, incluindo sequestro de carbono, melhoria do solo, biodiversidade, proteção de bacias hidrográficas e prestação de importantes serviços ecossistêmicos. Os herbívoros são parte natural dos ecossistemas mundiais e têm desempenhado um papel fundamental nos últimos milhões de anos. Como o número de herbívoros selvagens diminuiu bastante, em grande parte devido à ação humana, a manutenção de tais funções depende de uma gestão pecuária adequada. A pecuária deve ser aprimorada, mas não reduzida ou suprimida.

Não vejo outra maneira de salvarmos o nosso Pampa e sua biodiversidade se não for com ruminantes conduzidos com princípios agroecológicos. Isso sem falar na geração de trabalho e renda para milhares de pecuaristas familiares.

*Méd. Vet. Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM)  e 

Coordenadora da Comissão de Pecuária Orgânica do CRMV-RS.

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