PASTAGENS NATURAIS PRECISAM DE ANIMAIS PARA SEREM SUSTENTÁVEIS

Por Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel*

Afinal, por que existem milhões de animais herbívoros em um ambiente (como por exemplo nas savanas africanas), quando em outros eles simplesmente não existem em grandes números?

Animais e meio ambiente estão intimamente ligados. Se um animal vive em um lugar é por que encontra nele as condições ideais para sua sobrevivência e multiplicação. Este animal é necessário para a manutenção desse meio ambiente, se não ele simplesmente desapareceria de lá.

Alguns ambientes terrestres, devido às suas características climáticas, atingem seu o seu auge em termos de produção de massa vegetal antes de Matas e Florestas se estabelecerem. Estes ambientes são conhecidos como “grasslands” ou savanas e pradarias. A característica climática que os mantém neste estádio é a umidade.

A umidade de um ambiente é diferente do volume de chuvas que ela recebe. Por vezes temos um ambiente onde chovem 2.000 ou mesmo 3.000 mm anuais, mas com um período seco prolongado (umidade relativa baixa), o que impede ou retarda o crescimento de árvores. Em nosso país, os representantes mais expressivos das “grasslands” são os Pampas e os Campos Sujos (Cerrados com baixa densidade de árvores e arbustos).

Gado na caatinga, Itaberaba – BA , manejado em Altíssima Densidade (300 mil kg por ha) por curto período de pastejo e longo período de descanso).

 

Os animais herbívoros foram extintos de nossas “grasslands” pela ação do homem, quando de sua chegada ao Brasil, há cerca de 15.000 anos atrás. Nessa época existiam espécies herbívoras em grandes quantidades. A maneira que a Natureza achou para manter esses ambientes foi o incrível aumento de formigas cortadeiras e cupins nessas regiões.

Nestes ambientes, se os animais herbívoros não estão presentes, ocorre um declínio do meio ambiente e este tende a virar um deserto. Uma clara demonstração disso foi o que ocorreu na região do Alegrete – RS. Enquanto os animais não forem reintroduzidos naquele ambiente, somente o emprego de alta tecnologia e muitos insumos pode barrar o avanço de deserto que se criou por lá.

Região do Alegrete – RS. Observem algumas gramíneas perenes tentando sobreviver sem a presença de animais herbívoros.

 

Para muitos, o que falo neste artigo é diametralmente oposto ao que a ciência demonstra. Para muitos, foram os próprios animais que causaram dano ao ambiente. Esse é um assunto polêmico e para uma melhor explicação sobre o fenômeno, gostaria de convidá-los ao blog: www.gerenciamentoholistico.blogspot.com , onde explico em detalhes essa divergência.

Animais não causam destruição dos ambientes onde eles pertencem, o que é o caso dos Pampas e dos Campos Sujos. Onde existem pastos nativos, existem herbívoros e estes herbívoros são parte integrante desse ecossistema.

O que causa a destruição destes ambientes é o manejo dos animais. Se você pensar com calma, verá que nas savanas africanas existem milhões de herbívoros e eles estão lá a milhões de anos. Porque aqueles ambientes não se degradaram? Eles não são diferentes dos nossos cerrados. Apenas não existia a ação do homem.

Em cada situação das savanas africanas onde elas foram cercadas para a criação de parques nacionais, o ambiente se degradou. Somente com o restabelecimento da fauna e com o correto manejo destes animais, agora em um ambiente controlado pelo homem, foi possível conservar o ambiente.

Área mal manejada em Itaberaba – BA, antes da introdução de Gerenciamento Holístico. Observe a trilha formada pelo uso contínuo do mesmo lugar por animais constantemente. Causa de erosão mais abaixo.

 

Traduzindo para o mundo da agropecuária e para o nosso país.  ambientes onde existe a predominância de pastos nativos dependem de animais herbívoros para não se degradarem e somente com a reintrodução destes animais e o manejo adequado para aquelas condições veremos estas áreas retornar à sua máxima produtividade com o menor custo, favorecendo a sociedade.

Casos onde os pastos estão sendo corretamente manejados, com o auxílio de Gerenciamento Holístico, vêm provando constantemente os resultados positivos que essa ferramenta pode trazer. Exemplos existem já na Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Pará, Paraná e outros estados.

*  Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel é Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ – USP com Mestrado em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo (IZ – APTA – SP) e Pós-Graduação “latu sensu” em Perícias de Engenharia e Avaliações pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado – SP. É praticante de Gerenciamento Holístico e consultor em manejo de pastagens.

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3 respostas
  1. TATIANI says:

    Grande Alberto, excelente matéria!!! Parabéns pela explicação e ensinamento. Depois que se aplica o Gerenciamento Holístico, é sempre pensando em aperfeiçoar.

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