Criado Grupo Animal da IFOAM – América Latina

Ocorreu na semana passada (23/01)a reunião de formalização do Grupo Animal da Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica da América Latina, (IFOAM-AL), com a participação de Homero Blas, vice-presidentes da IFOAM AL e mais 10 pessoas provenientes de vários países.

Foram eleitos Angela Escosteguy e Alfredo Bravo, como coordenadora e vice. Como os objetivos o grupo identificou (1) a importância de defender a pecuária extensiva sustentável tendo em vista os ataques que o setor vem sofrendo de forma generalizada, pela sua enorme importância social e ambiental em todos países do continente e (2) promover o conhecimento e desenvolvimento da pecuária orgânica na América Latina.

Primeiras ações propostas:

 Organizar um grupo de comunicação virtual;

 Realizar eventos educativos virtuais e presenciais este ano;

 Organizar um banco de dados específico sobre este tema na região;

 Preparar material para enviar para o Congresso Mundial da IFOAM que ocorrerá este ano, previsto para ocorrer em Taiwan.

Próxima reunião será dia 27/02, 11:30 h (hora Brasil). Interessados em participar deste Grupo, contatar: (55) 51 99967-1607.

SOBRE OS ALIMENTOS DE LABORATÓRIO

                                                                                               Por:  Med. Vet. Silvia Terra

Para o cultivo de células em laboratório existe um aparato necessário em termos de equipamentos para fazer isso como: estufas de CO2, freezers -80C, meios de culturas caríssimos material plástico para cultura celular e reagentes. Trabalhei com cultura de células tronco de tecidos adiposo e linhagens celulares tumorais no mestrado e doutorado. A quantidade de lixo plástico gerado é absurda. O gasto energético pra manter estufas de CO2 e freezers a -80C é assustador.

Sem análise de risco para a saúde o ambiente os animais e as pessoas incluindo os produtores rurais vão lançando estas porcarias para as pessoas. Vamos ficar quietos até quando? E o modelo para o Brasil? Espero que não acreditemos que seja este.

Fora isso, em qualquer cultura celular não é fácil manter o cultivo num ambiente bidimensional. Não existe uma cultura perfeita que simule um tecido vivo dentro de um organismo. Isso requer culturas tridimensionais com suportes artificiais.

Quando consumismo carne de bovino ou outra espécie, ingerindo não só proteína. Ingerimos tudo que vem junto nessa estrutura tridimensionais natural como: vitaminas, gordura, cartilagem, vitaminas, minerais e ácidos graxos. Em um sistema de laboratório não é possível fornecer tudo isso, ou seja , além de mais caro para produzir, é um alimento mais pobre em nutrientes. Isso já era absurdamente caro antes da pandemia. Imagino quanto não está agora.

Nesta proposta perdermos a conexão com a nossa própria alimentação e origem do que consumimos. Um desastre. Sem falar nas citocinas que são necessárias pra induzir o crescimento celular .

Além disso, é assustador a quantidade de lixo gerada nos laboratórios de pesquisa de cultura de células. São muitas garrafinhas plásticas usadas para isso que são descartadas no lixo biológico. Não sei se isso tem reciclagem. Acredito que não, por ser descarte biológico. Outro fator importantíssimo é o uso contínuo de antibióticos nessas culturas. Eu usava gentamicina e fungicida para manter as células. Tudo isso em capelas fluxos que são muito caras .

As balas de CO2 pra manter as estufas são uma fortuna também. Não consigo entender qual a vantagem de investir em algo tão custoso. Entendo que a cultura celular é importante pra estudos com objetivo médico de tratamento de doenças como : Alzheimer, câncer , Parkinson, diabetes etc. Com a finalidade nutricional, acho insano e incoerente já que temos isso pronto no organismo animal.

Todos dependemos de proteína para viver, mas vamos tirar milhares de produtores e animais para ter um negócio lucrativo para algumas empresas ? Quando o produtor sair do campo não haverá mais ninguém cuidando dos territórios rurais, biomas e vida silvestre.

Vamos deixar os urbanos ditando como o rural deve proceder ?

*Silvia Terra, médica veterinária com doutorado em Bioquímica, pelo Departamento de Bioquímica da UFRGS.

COMO SALVAR O PAMPA?

Angela Escosteguy*

Recentemente fui a Livramento e fiquei apavorada com a paisagem. Onde está nosso Pampa e sua rica biodiversidade, base da nossa cultura e tradições? Por todos lados só vi imensas plantações de soja ou de árvores para papel, verdadeiros desertos verdes e as vezes algumas plantações de arroz ou pomares  E muito de vez em quando, um gadinho remanescente, como que esquecido e de longe parecendo um  bordadinho colorido e vivo naquela paisagem.

Isto tudo começou após a Segunda Guerra Mundial quando veio a Revolução Verde que modificou completamente os sistemas de produção de alimentos e convenceu a todos que o uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos, monoculturas  e a  intensificação dos processos produtivos iria acabar com a fome no mundo. Alguns anos depois foi a vez dos transgênicos  e a venda de sementes patenteadas, prometendo culturas resistentes à pragas, à seca e supostamente  mais nutritivas. Agora assistimos um narrativa crescente que a pecuária deve ser eliminada porque agride o ambiente e a solução então é passaremos a comer alimentos processados de base vegetal ou culturas de células produzidas em laboratório. A agricultura foi substituída pelo agronegócio.

Aliás isso já vem faz tempo. Primeiro condenaram  a banha de porco e logo todos passamos a usar óleo de soja. Depois foi a vez da manteiga, que deu lugar à margarina. Na sequência o ovo e as acusações sobre colesterol. Agora a ciência comprovou que a banha, a manteiga e ovos são mais saudáveis e muito mais ricos em nutrientes que os alimentos de base vegetal que os substituíram. E a carne, tão acusada,  fornece proteínas de alta qualidade e vários nutrientes, alguns dos quais nem sempre são obtidos com dietas vegetais. Ela contém  vitaminas como B12, B, retinol, ômega e ácidos graxos, vários minerais, (como cálcio, ferro e zinco) e uma variedade de compostos bioativos importantes. (Animal Frontiers, 2023).

FOTOS ACERVO IBEM.

Do ponto de vista ambiental, estudos recentes da FAO e da Universidade de Oxford mostram que  o gado bem manejado, aplicando princípios agroecológicos, pode gerar muitos benefícios, incluindo sequestro de carbono, melhoria do solo, biodiversidade, proteção de bacias hidrográficas e prestação de importantes serviços ecossistêmicos. Os herbívoros são parte natural dos ecossistemas mundiais e têm desempenhado um papel fundamental nos últimos milhões de anos. Como o número de herbívoros selvagens diminuiu bastante, em grande parte devido à ação humana, a manutenção de tais funções depende de uma gestão pecuária adequada. A pecuária deve ser aprimorada, mas não reduzida ou suprimida.

Não vejo outra maneira de salvarmos o nosso Pampa e sua biodiversidade se não for com ruminantes conduzidos com princípios agroecológicos. Isso sem falar na geração de trabalho e renda para milhares de pecuaristas familiares.

*Méd. Vet. Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM)  e 

Coordenadora da Comissão de Pecuária Orgânica do CRMV-RS.

DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO

A Diretora do IBEM, Angela Escosteguy fala sobre o Dia Mundial da Alimentação, criado em 1981, pela FAO para termos um dia para refletir sobre a alimentação e nutrição dos humanos.

IMPORTÂNCIA DA CARNE PARA A NUTRIÇÃO HUMANA

Infográfico publicado na Revista Fronteiras Animais, da Academia da Universidade de Oxford/abril 2023.

INFOGRÁFICOS APRESENTADOS PELA FAO/2022 SOBRE IMPORTÂNCIA DOS ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL PARA A NUTRIÇÃO HUMANA

Clique para ver todas as informações.

QUALIDADE DOS ALIMENTOS ORGÂNICOS

Seguem informações detalhadas e infográficos preparados pelo  Instituo do Bem-Estar (IBEM) em parceria com a Faculdade de Veterinária da UFRGS e com o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS.

HOMEOPATIA NO CONTROLE DE CARRAPATOS E MOSCA DO CHIFRE

Por Luiza Cheuiche*

Situação inicial 

          Em janeiro de 2021, comecei a administrar a Fazenda Santo Antônio do Parové, no município de Alegrete, RS. Iniciamos o trabalho com 164 vacas adultas vazias, em uma área de 380ha de campo nativo. A seguir, comprei 40 vacas Braford prenhes, e 2 touros Braford. 

          Logo no início, nosso primeiro desafio foi o controle do carrapato e da mosca do chifre. A contaminação era frequente. Os banhos geralmente eram quinzenais, às vezes semanais. Mesmo com alternância de princípios ativos e aumento da frequência das aplicações e banhos, os tratamentos demonstravam-se insuficientes e ineficazes.  Decidimos, então, coletar os carrapatos para a realização de um biocarrapaticidograma.  Ao mesmo tempo, investimos em cercas elétricas com captadores de luz solar, para a divisão dos potreiros e rotação com maior tempo de vazio sanitário. 

          O resultado do biocarrapaticidograma, em setembro de 2021, nos revelou o que estávamos testemunhando empiricamente:  a resistência da maioria dos produtos testados. Somente dois princípios ativos demonstraram mais de 70% de eficácia. A maioria dos produtos testados foi totalmente ineficientes. A partir de setembro de 2021, os banhos de controle foram um pouco mais eficientes, com intervalos de 30 a 40 dias. 

Mudança para protocolo homeopático 

          Em marco de 2022 iniciei um protocolo homeopático com Sulphur 30CH, solução 5% álcool, no sal. O produto deve ser colocado em uma lona limpa, em cima de uma ou duas xícaras de açúcar cristal, misturada com colher de pau, e após colocar o sal mineral por cima e misturar bem. Colocar em cochos cobertos protegidos da chuva e do sol.

          Em abril de 2022, comecei a usar o Sulphur 30CH no banho de aspersão. 1,5ml por litro de água, com resultados muito bons. Também foi nesta época que coletamos os carrapatos e moscas para fazer o nosódio. Coleta-se as fêmeas telógenas vivas (as mais fortes são usadas para a tintura-mãe), fura-se com palito de madeira, e coloca em vidro escuro de 30ml ou mais. Uma parte de carrapato para 6 partes de álcool 70% de farmácia, ou álcool de cereais. As moscas são coletadas vivas do lombo dos animais e colocadas diretamente em outro vidro escuro, na mesma proporção de álcool. Levei essas tinturas-mães para Porto Alegre, para a farmácia homeopática produzir a tintura mãe (após 15 dias, ela é coada, sucussionada e diluída, até 6CH). Este processo pode ser feito na propriedade, mas devido a minha pouca experiência nessa época, preferi fazer na farmácia.

          No final do mês de abril de 2022 começamos a usar o nosódio da mosca e do carrapato no sal, juntamente com o Sulphur.  

Resultados gradativos          

           Durante o ano de 2022, fizemos somente 2 banhos de controle com o ectoparasiticida indicado pelo biocarrapaticidograma (antes banhávamos a cada 2 semanas). O primeiro foi no inverno de 2022, e o segundo em dezembro de 2022. Após esse banho em dezembro, muitas vacas ficaram estonteadas, e os carrapatos não caíram, aumentando a minha confiança no controle homeopático dos ectoparasitos. As moscas desapareceram por vários meses, reaparecendo em final de fevereiro de 2023, quando começou a chover após a estiagem prolongada. 

          Em dezembro de 2022, após a experiência ineficiente com o inseticida, iniciei o banho com nosódio do carrapato na potência 6CH, na mesma proporção que usava o Sulphur, 1,5ml para cada litro de água, tendo um resultado mais eficiente. Logo no início do protocolo, a eficiência foi impressionante, mas aos poucos, os carrapatos começaram a ressurgir, mas somente nas virilhas, murchos e opacos.  

          Além disso, com a redução no uso do tratamento químico, tivemos uma economia de 50% no custo da produção, pois os medicamentos homeopáticos são muito mais baratos, além de reduzir muito a necessidade de manejo dos animais. 

Observações e acompanhamento 

          Percebo que a mudança nas potências é necessária durante o processo, e o mais importante é a observação dos carrapatos, do campo, do gado, e da realidade de cada propriedade. Com o uso da homeopatia, os carrapatos ficam mais localizados nas virilhas, ficam opacos e ressecados, às vezes demoram a cair, mas estão murchos. Bem diferente de janeiro de 2021, quando as carrapatas eram lustrosas e ingurgitadas, localizadas por todo o dorso, pescoço e extremamente evidentes. 

          A Pecuária Orgânica sempre foi o meu objetivo, mas o que eu ouvia eram opiniões desencorajadoras…. Leva muito tempo… não há interesse comercial…. O tempo é o de cada um de nós, e o mercado está pronto, exigindo mudanças, que devem partir de quem produz; e precisamos reduzir os custos e oferecer alimentos sem resíduos químicos. Me ponho a disposição para ajudar nessa nova fase da pecuária. 

          Nesses dois anos, trabalhando e estudando homeopatia, já presenciei muitos milagres. Vamos juntos observar e aprender com eles. 

Luiza Rodrigues Cheuiche, médica veterinária com especialização em homeopatia e pecuária orgânica. Produtora rural. E-mail: luizacheuiche@gmail.com.

CURSO E DIA DE CAMPO PECUARIA ORGÂNICA E HOMEOPATIA

O  Instituto do Bem-Estar (IBEM) em parceria com a Fazenda Santo Antônio promove  o Mini Curso Pecuária Orgânica e homeopatia com o objetivo de avançar nas práticas de manejo agroecológico de animais em transição ao sistema orgânico de produção.

O Curso conta com o apoio do  Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS  e visa qualificar pessoas sobre os sistemas orgânicos de produção animal, com foco na criação de bovinos e uso da homeopatia no gado. 

CONTEÚDO

– Bases da pecuária orgânica

– Planejamento da transição ao sistema orgânico

– Controle de parasitoses em especial o carrapato: uso de homeopatia.

PÚBLICO-ALVO  

Aberto à comunidade em geral, a atividade visa qualificar produtores, estudantes, técnicos, entre outros profissionais de diversas áreas interessados em conhecer o sistema orgânico de criação de bovinos e ovinos. 

FACILITADORES  

Angela Escosteguy – Médica Veterinária pela UFRGS e Mestre em Ciências Alimentares  pelo Instituto Nacional Agronômico de Paris/França.  Membro GT Animal da IFOAM – Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica. Especializada em Pecuária Orgânica, é sócia-fundadora e Diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM), 

João Vasco Bandeira Dutra Júnior – Médico Veterinário pela UFPEL, com Especialização em Homeopatia aplicada aos animais e Homeopatia farmacêutica. Atualmente desenvolve assessoria veterinária na gestão e manejo sustentável, bem como desenvolve pesquisas referentes ao controle de parasitas externos de bovinos.

Luiza Rodrigues Cheuiche  – Médica Veterinária pela UFRGS, com Especialização em Modulação hormonal e em Homeopatia. Participou do Curso Pecuária Orgânica IBEM. Proprietária da Toca Consultório Veterinário e Pet shop. Produtora rural na Fazenda Santo Antônio do Parové, em fase de transição para o sistema orgânico.  

LOCAL

Fazenda Santo Antônio do Parové/ Alegrete/RS fica a 46 km (asfalto) da cidade de Rosário do Sul + 4 km internos de terra.

https://maps.app.goo.gl/GezVzKRTWwmvFY9B8

CARGA HORÁRIA 

Dia 9, sexta-feira : aulas teóricas. Das  9:30 h   às 18 :00 h. 

Dia 10, sábado dia de campo com atividades práticas. Das 8:30 h às 17:30 h. 

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aulas teóricas

  • Sistemas de produção de alimentos
  • Bases  da pecuária orgânica
  • Planejamento para  a conversão ao sistema orgânico
  • Sanidade no sistema orgânico
  • Uso de medicamentos homeopáticos (noções)

Atividades práticas

  • Visita à propriedade para exercício de planejamento (passo a passo) para transição ao modelo orgânico
  • Demonstração de preparo de sal homeopatizado 
  • Coleta para realização de nosódio de carrapato. 

INVESTIMENTO

Público em geral Ex alunos IBEM Estudantes / Estudantes pós graduação
300,00 270,00 100,00 / 160,00

*.  Inscrições em grupo com desconto. Faça contato.

Os estudantes devem enviar o comprovante de matrícula para o e-mail: ibembrasil.org@gmail.com

Bônus : Guia Transição à Pecuária Orgânica (on-line).

PARA INSCRIÇÃO: https://forms.gle/4Pr6QkMFEdaTzL6z5

As vagas serão limitadas e por ordem de inscrição mediante comprovante de pagamento.

ALIMENTAÇÃO

Os que desejarem fazer as refeições na fazenda, devem fazer contato direto com a proprietária Luiza: fone : 51 99268-5732.

Café da manhã : 15 reais

Almoço: 25 reais

Coffe breack : 10 reais

Jantar: 25 reais

ALOJAMENTO

A Fazenda fica a 45 km (asfalto) da cidade de Rosário do Sul.

Acampamento. Quem desejar pode levar a sua barraca para acampar na fazenda. Fazer contato direto com Luiza:

pagamento.

ALIMENTAÇÃO

Os que desejarem fazer as refeições na fazenda, devem fazer contato direto com a proprietária Luiza: fone : 51 99268-5732.

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Hotéis em Rosário do Sul

Hotel Areias Brancas

(55) 3231-2363

Hotel Fazenda da Lagoa Ltda

(55) 3231-2233

Hotel Ibicui Centro

(55) 3231-6188

PARA DÚVIDAS SOBRE O CURSO E ATIVIDADES FAÇA CONTATO:

51 99967-1607 ou ibembrasil.org@gmail.com.

IMPORTÂNCIA DA AMOREIRA  NA SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA DE CAPRINOS A PASTO

Por Elisa Köhler Osmari*

Figura 1: Amoreiras (Morus alba) para suplementação animal

Além da raça e estágio de lactação, a produção de leite dos ruminantes é afetada pela sazonalidade da pastagem. O inverno sul brasileiro favorece pastagens hibernais de alto conteúdo de proteína bruta (PB), com alta resistência ao frio (Moreira et al, 2001) enquanto o verão propicia gramíneas tropicais. Contudo, existem períodos de vazio forrageiro, decisivos para animais em lactação. Nesse contexto, existe a alternativa da suplementação com família Moraceae. (Doringan et al, 2004). A árvore da amoreira (Morus alba) foi introduzida para cultivo do bicho-da-seda no país, antes da produção em massa de tecidos sintéticos. A amoreira possui importância farmacológica e nutricional (Souza, 2021; Barros e Amorim, 2019): na medicina tradicional chinesa, as folhas, frutos e caules de amoreira são usados no tratamento do Diabetes Mellitus, do colesterol, como sedativo, expectorante, analgésico, diurético e antiepilético (Zeni et al, 2010). As folhas da amoreira são ricas em flavonoides utilizados na indústria farmacêutica (Barros e Amorim, 2019; Wang et al. 2008). Não ocorrem grandes diferenças na composição bromatólogica entre amoreiras do gênero Morusdestinadas à produção de frutas. Já o seu uso para alimentação animal está relacionado às pequenas áreas de agricultura familiar, sendo historicamente usada na Ásia, sua região originária (Souza, 2021). 

Para suplementação de caprinos, a amoreira pode ser usada:

•          Como banco de proteína, em ramoneio;

•          Na forma picada no cocho, até 2 cm de diâmetro;

•          Como feno ou pré-secado picado;

•          Em último caso, como silagem, especialmente de folhas.

A maior seleção pelas cabras ocorre no pastejo no banco de proteína, onde os caprinos são soltos no pomar de amoreiras para pastoreio por 1-2 h/dia. Depois voltam para seus piquetes com gramíneas para obter alimentação mais balanceada entre proteína e energia. Além de palatável para caprinos, a amoreira possui folhas com altas quantidades de proteína, elementos minerais, menos celulose e melhor digestibilidade do que a folha de alfafa ou feno de soja (Dorigan et al, 2004). Por outro lado, os galhos finos picados com as folhas fornecem uma boa fonte de fibra efetiva, evitando a queda da gordura do leite, mesmo combinado com suplemento concentrado. O feno de amoreira é um volumoso proteico que, com tamanho de partícula (picado) ideal, não diminui a gordura no leite, ao contrário de dietas com alto teor de concentrados. Por favorecer a flora ruminal que produz esse equilíbrio de ácidos graxos desejáveis (Osmari et al, 2012), aumenta as gorduras saudáveis do leite como o ácido linoleico conjugado (CLA).

O feno pode ser usado para todos os ruminantes, sendo aconselhável, especialmente para vacas leiteiras, com menor seletividade do que os caprinos, não ultrapassar de 2 cm de diâmetro dos ramos a serem cortados para fornecimento no cocho. Se o diâmetro do picado for grande demais, retarda a digestão no rúmen pelas bactérias, limitando o consumo físico. Quando um animal enche o rúmen, mas não obtém os nutrientes necessários, a isso chamamos de fome oculta.

No caso de do consumo voluntário do feno de Morus alba por caprinos em pastejo sobre tifton+aveia, no experimento (Osmari et al, 2009) conduzido em Maringá-PR a espessura dos galhos não ultrapassou 1 cm (diâmetro). Mesmo picado, o feno de amoreira permitiu seletividade pelas cabras lactantes, com visível rejeição de frações do caule lignificado e potencialização da ingestão de proteína e de energia. A proteína bruta média de 20,10% e a digestibilidade in vitro (DIVMS) 72,85% foram afetadas pela espessura dos ramos, proporção de folhas, ocorrências de geada na fenação.

Na Índia, pesquisas sobre alimentação de caprinos exclusiva com amoreira, encontraram ingestão de energia limitada dependendo da meta de ganho de peso. Anbarasu et al (2004) verificaram uma econômica mistura volumosa proteica constituída por: folhas de Leucaena leucocephala, Morus alba e Tectona grandis(2:1:1) para atender 50% do requerimento protéico de cabras, em mistura com dieta basal de palha do trigo substituindo suplementos convencionais, sem efeitos adversos no consumo voluntário, na utilização de nutrientes, nas enzimas séricas ou no status imune. Ba et al (2005) verificaram, em dois experimentos, um aumento do consumo de matéria seca (MS) na ordem de 40%, com a ingestão total de 3,41 kg de MS/ 100 kg de peso vivo (PV) em caprinos em crescimento à pasto, quando a silagem de amoreira suplementar foi fornecida na quantidade de 0,75 kg/dia. Quando a silagem de amoreira foi ingerida sozinha, o consumo foi apenas de 3,02 kg MS/100 kg PV, superior ao consumo de 2,70 kg MS/100 kg PV da dieta somente com pastagem. Um consumo voluntário de 3,91 kg PV/100 kg PV foi relatado por Theng et al (2003), no Camboja, para caprinos em crescimento alimentados somente com folhagens verdes de amoreira, enquanto o consumo atingiu 4,98% do PV com a seleção pelo próprio animal através da suspensão da folhagem (haste com folhas). No entanto, faltam mais trabalhos no Sul do Brasil que expressem seu potencial na forma de desempenho animal para a produção de leite e de carne caprinos, bem como sobre a forma como é oferecida (feno, silagem ou fresca).

* Elisa Köhler Osmari é Zootecnista formada pela UFSM-RS, com Mestrado em Forragicultura pela UEM – PR. É analista na Embrapa Pecuária Sul, Bagé/RS, integrante do COBEA/CFMV e da Comissão de Pecuária Orgânica CRMV-RS. Contato: elisa.osmari@embrapa.br

Referências bibliográficas:

ANBARASU, C.; DUTTA, N., SHARMA, K., & RAWAT, M. Response of goats to partial replacement of dietary protein by a leaf meal mixture containing Leucaena leucocephala, Morus alba and Tectona grandis. Small Ruminant Research, v.51, n.1, p.47-56, 2004.

BA, N.X.; GIANG, V.D.; NGOAN, L.D. Ensiling of mulberry foliage (Morus alba) andthe nutritive value of mulberry foliage silage for goats in central Vietnam. In: LivestockResearch for Rural Development, v.17, n.2, p.1-9, 2005. Disponível em:<http://www.cipav.org.co/lrrd/lrrd17/2/ba17015.htm>. Acesso em: 3/4/2005.

BARROS E AMORIM. Adição de folha de amoreira (Morus spp.) Como suplemento enriquecedor da multimistura. SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.14, n.2, p.1-7, 2019.

DORIGAN, C.J.; RESENDE, K.T.; BASAGLIA, R. et al. Digestibilidade in vivo dosnutrientes de cultivares de amoreira (Morus alba L.) em caprinos. Ciência Rural, v.34,n.2, p.539-544, 2004.

MOREIRA, F.B.; CECATO, U.; PRADO, I.N. et al. Avaliação de aveia preta cv Iapar61 submetida a níveis crescentes de nitrogênio em área proveniente de cultura de soja.Acta Scientiarum, v.23, n.4, p.815-821, 2001.

OSMARI, Elisa Köhler. Production of Goat’s Milk and Fatty Acids Profile: A NewPerspective in Human Diet. In: Diego E. Garrote; Gustavo J. Arede. (Org.). Goats:Habitat, Breeding and Management. 1ed.Hauppauge: Nova Science Publishers, 2012, v.1, p. 39-70.

OSMARI, E.K.; CECATO, U.; MACEDO, F.A.F.; ROMA, C.F.C.; FAVERI, J.C.; AYER, I.M. Consumo de volumosos, produção e composição físico-química do leite de cabras F1 Boer× Saanen. Revista Brasileira de Zootencia, v. 38, n.12, p. 2473-2481.2009.

SOUZA, A.P. Aspectos anatômicos e farmacognósticos de folhas de amoreira. 2021. 16 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas), Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, Rio Verde, 2021. Disponíve em: <https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/2192/3/TCC_Aleandra.pdf>.Acesso em: 02/02/2023.

THENG, K.; PRESTON, T.; LY, J. Studies on utilization of trees and shrubs as the sole feedstuff by growing goats; foliage preferences and nutrient utilization. July 2003. Livestock Research for Rural Development 15(7):17-37. v.15, n.7, p.17-37, 2003.

WANG, J.; et al. Isolation of flavonoids from mulberry (Morus alba L.) leaves with macroporous resins. African Journal of Biotechnology, v. 7, n. 13, p. 2147-2155, 2008.

ZENI, A. L. B.; DALL’MOLIN, M. Hypotriglyceridemic effect of Morus alba L., Moraceae, leaves in hyperlipidemic rats. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 20, n.1, p. 130-133, 2010.